Essa semana que passou foi sem dúvida, especial. Afinal,
celebramos o dia das crianças e dos professores. Ambos, em minha opinião, são
figuras essenciais para escrevem o futuro de uma nação. Além de tudo que
consigo ver em comum nestas duas categorias, que vão desde a sabedoria do erro
até a alegria da ironia, nos dois casos às vezes penso que tem tudo para serem
chatos. Quando não o são, então é fantástico!
Mas ambos os casos (crianças e professores) guardam uma
característica que gostaria de comentar. Um tipo de olhar. Nesta semana festiva fui a São Paulo com
minha irmã. Ficamos lá somente dois dias, mas foi o suficiente para me fazer
pensar nesse olhar. O Olhar das crianças,
dos professores, o olhar do turista!
Eu costumo dizer que uma das duas melhores coisas do mundo é
viajar. Sim, duas porque me refiro às duas formas de viajar. Não precisamos
sair de nossa cidade para viajar. Precisamos apenas sair de nossas amarras do
senso comum.
Um turista, uma criança e um professor, compartilham muitas
vezes aquele olhar de curiosidade, de encantamento as coisas que passam
despercebidas pelos outros, vislumbram e desfrutam de outra forma o que
conhecem. Como que de maneira um tanto quanto mágica ao verem as coisas,
frequentemente são tratados como ingênuos, bobos ou loucos e sem noção.
Muitas vezes pensam “aah é que ele é turista/professor/criança”
quando veem estas “categorias” fazendo aquilo que não temos coragem de pensar
ou fazer.
Fomos para a grande metrópole da insônia para tirar os
vistos para os EUA. Em São Paulo fomos recebidos por inúmeros prédios que quase tocavam o avião
antes do pouso. Gigantescos engarrafamentos que também podiam ser vistos ainda no ar. Taxista
mal-humorado, empresários arrumados e claro, atrasados.
Naquele mar de asfalto com ondas de poluição percebíamos que
dar um sorriso poderia ser menos natural do que bater na pessoa de sua frente
para entrar no metrô. Porém o que nos parecia um convite para briga era algo
corriqueiro e que não afetavam suas relações cotidianas.
Após uns pães de queijo, horas na fila e passaportes
aprovados, começamos a aproveitar a cidade. Ainda bem que os EUA ainda não
criou um detector de pensamento em seu consulado, pois meus pensamentos
enquanto esperava, foram muito além das minhas habituais críticas a esse país.
(Mas como sempre digo. Se queres criticar, busque conhecer para não ficar
reclamando e sim criticando).
Cuidado, não estou generalizando, não estou inferiorizando
ou tendo um comportamento xenófobo. Leia com atenção. Não acredito que podemos
falar, e evito ao máximo, “gaúchos”, “brasileiros”, “homens”, “mulheres”,
“estudantes”, “estadunidenses”. As vezes as palavras são necessárias, mas
pensar assim não. Toda generalização é burra. (menos essa hehe)
Em São Paulo, embora tivéssemos pouco tempo, aproveitamos
bastante. O transporte público lá, especialmente o metrô, achamos bastante útil
e prático. Claro, evitando os horários de pico. A surpresa maior foi uma
máquina que vende livros ao valor que tu desejar. Sim, tu diz quanto a obra
vale e paga o que quiser por ela. (da para se sentir um crítico literário, pão
duro ou ‘leitor’ ostentação)
Estação da luz, sua arquitetura, prostitutas e piano, é um
conjunto interessante aos olhos. Uma mescla de culturas, histórias e cotidiano
que revelam um pouco da nossa sociedade.
Pinacoteca, realmente um prédio muito lindo e por 6 reais
mais do que ver as obras e exposições temporárias, podes participar do museu.
Gravar depoimentos, reorganizar obras, fazer sua própria arte. Fantástica a
interatividade que eles propõem.
Museu da língua portuguesa, meu favorito! A gente é a partir da palavra. Então o museu
nos explica. Emocionante todos os espaços. Senti-me mais brasileiro, mais eu,
mais gente.
Por fim, mercado municipal, 25 de março, andávamos como
turistas em galerias do Louvre, fui confundido com o ator do filme Jesus por um
dos artistas-vendedores.
Jardim da luz, esperando o tempo, conhecemos pedintes como
se fossem autores renomados que contavam suas belas histórias em troca de
alguns trocados.
Comemos banquetes em padarias de ruas do centro.
Mas quando perguntávamos onde ficavam museus, como
poderíamos nos deslocar, o que havia para fazer, as pessoas que moravam lá
pareciam mais turistas que nós. Ou melhor, não tinham o olhar do turista, mas
não conheciam. E isso não é em São Paulo, não é característica dos
estadunidenses, é, infelizmente algo que tem marcado a nossa vida corrida nesse
mundo pós-moderno.
Muitas vezes conhecemos a nossa cidade de maneira fria. Sem
graça. Sabemos o trajeto de casa até o trabalho e a escola. Mas embora passemos
todos os dias pelo mesmo caminho, não estamos atento nem mesmo as pequenas
belezas deste trecho. Fones de ouvido, rádio ligado, olhar fixo e perdido ao
mesmo, em nós mesmos.
Não interagimos com os outros, com a cidade, não
desbravamos, não nos encantamos, não percebemos. As vezes notamos crianças,
turistas e professores brincando, se encantando, tirando fotos com, falando
sobre essas “coisas” que passamos diariamente sem perceber que são mais que
“coisas”.
Fica o meu convite. Crie a fantasia. É uma brincadeira de
criança, mas uma tarefa de professor.
Seja turista na sua cidade, no seu bairro, rua, emprego,
escola, casa. Busque encontrar aquilo que está sempre ali e tu não percebe.
Lembra que para viajar não precisa fazer malas? Basta fazer a cabeça. Viaje,
abra mais os olhos e a mente. Seja um pouco mais criança, professor e turista no olhar.