terça-feira, 2 de dezembro de 2014

                                                             
                   Faça uma lista...

Esse ano termina mais cedo para mim.
(viagem, churrasco, ceva, piscina, show, amigos mas também notas, conselhos, calor, tensão, prazos, choros...)

Intenso como tem que ser. Buscando o equilíbrio como deve ser.

Nesse contexto tive uma aula com estudantes do EJA onde debatemos a relação da razão e da emoção na construção do conhecimento  e na busca pela sabedoria. Partindo de exemplos complexos do cotidiano até a casos simples da filosofia grega ou da neurociência  percebemos como esse casamento do saber com o sentir é mágico.

Eles estão presentes de forma bem ruidosa dentro de mim. Horas brincam de mãos dadas, horas se desentendem. Uma relação sadia, mas tensa.

Acredito em deus tanto quanto acredito em uma cadeira, ou no amor. São coisas que não tento dizer que não existem. Mas existem porque nós construímos. 

Partindo do conceito de cultura, diria que deus para mim são os homens e mais especificamente a relação entre o pensar e sentir dos homens. Sem polêmicas religiosas, queria dizer que penso ser sagrada a relação do saber com o sentir.

Mas a questão é que nesse encontro nós, como de costume, conversamos bastante, passamos pela filosofia, tempo, e chegamos ao “conhece-te a ti mesmo” do Sócrates, como chave dessa relação da sabedoria.  Disso fomos a ressalva trazida por Foucault, que o conhece-te a ti mesmo, estaria subordinado ao “cuidado consigo”. 

 Depois de algumas razões e emoções, deixei como atividade para eles, fazer uma lista de 10 coisas para realizarem antes de morrer.  Dez sonhos. Dez cuidados consigo mesmo.

Rendeu desde reflexão sobre excesso de quereres até dificuldade de sonhar.
Entrei na jogada. Enquanto eles faziam, baixinho fui pensando nos meus.  (incrível como da para perceber a relação da razão com a emoção)

E você? Quais são seus 10 sonhos/coisas pra realiza antes de morrer/cuidados consigo?

Aaah eles tem um trabalho final para serem aprovados. Li as listas deles e cada estudante vai ter que realizar/alcançar um de seus desejos até o final do ano. (Percebi novamente o quanto vamos adiando nossos sonhos... mas são bem mais possíveis dos que nós imaginamos... acredito que ninguém vai (querer)reprovar!)  

ps: sobre meus sonhos até escreverei aqui, mas antecipo, é meio F. Pessoa, guardo em mim todos os sonhos do mundo. E são tantos que estão sendo construídos todos os dias, com todos que me cercam.


quarta-feira, 19 de novembro de 2014



                         As coisas não ditas.

Todos nós silenciamos.

Cada vez menos, é verdade.

Vivemos em tempos que as pessoas gritam seus desejos, estampam seus feitos,
Publicam, curtem e compartilham, tudo na expectativa de... espera! Na expectativa de que?
Serem ouvidos? Vistos? Lembrados? Admirados? Invejados?

Penso que a falta de liberdade para se expressar está entre as coisas mais doloridas para o ser humano. Não somos se não nos expressamos. A angústia do silêncio do pecado, da ditadura, do segredo, sem dúvida é marcante.

Mas pelo contrário, atualmente não tem sido esta a questão. Vivemos em um país onde, ao menos na teoria, garantidos também pela constituição e dentro de nossas amarras culturais, temos a total liberdade de expressão.

Tanto se lutou e ansiou por isso... e agora?
Todos emitem todo tempo, mas poucos veem, poucos escutam.

Seria um momento de protestar para que as pessoas, ao invés de somente falar, mostrar, expressar, também vejam, escutem e percebam?

Talvez o excesso de palavras, usar e abusar das imagens, não tenha mais nos dado o trabalho da escolha, da reflexão, do lapidar o que mostramos, falamos.  Não no sentido da censura (bate na madeira 3 vezes), mas no respeito ao que devemos ter conosco e com os outros.

O bem escrever, o saber falar, reside no ato de escolher bem as palavras. Já dizia o Schopenhauer.

Não faltam pensadores que louvaram o silêncio. Desde filósofos antigos até poetas contemporâneos. Mas por hora, ao invés de citar as frases, fiquemos em silêncio.

E por fim, parafraseando o Tim maia (que está em cartaz com um filme que se me agradar pelo menos a metade que sua biografia - Nelson Mota, me agradou... deve ser foda!)
 “aaaah  se o mundo inteiro me pudesse ouvir...”

Se o mundo inteiro te pudesse ouvir, falarias o que?
ps:Mas hoje não vivemos um tempo onde o mundo inteiro pode nos ouvir?

Calo-me.



segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Quebrando os muros!


Semana passada completou 25 anos da queda do muro de Berlim!

Há 25 anos a Alemanha estava novamente unida, ao menos teoricamente.
 Caiu junto com o muro a guerra fria que desde o final da segunda guerra mundial dividia o mundo em ideologias divergentes. EUA e seu modelo de vida capitalista onde se vende a ideia de que há liberdade, mas se é escravo do dinheiro X URSS e seu modelo socialista onde se doa a ideia de igualdade, mas se é escravo do estado.

Embora tenha dado um tom crítico, de fato é importante refletir sobre os dois modelos para, diferentemente da cegueira contemporânea, pescar aspectos positivos de ambas as ideologias. Com o triunfo do capitalismo e a globalização se aprofundando e acelerando a comunicação entre os países, considero a queda do muro o marco inicial para o inicio da era pós-moderna.

Não, a pós-moderna não vem depois da moderna (1453 – 1789) e sim depois da contemporânea. Período que ainda é tema de discussão acalorada nos meios intelectuais. Desde Lyotard e a pós-modernidade e Bauman e a modernidade líquida.

De fato penso que este novo período é marcado pela descrença nos macro discursos, nas grandes ideologias. Uma era de aceleração na tecnologia da informação, em excesso, por sinal, de velocidade na comunicação, falha muitas vezes, e nas micro-revoluções.

Sou simpático a esse período. Sou um crítico otimista. Penso que as coisas estão piorando cada vez menos.

Percebo uma ampliação dos direitos de cidadania, um debate maior de preconceitos, uma maior participação das pessoas nos processos, uma valorização da educação, diferença e da sustentabilidade.Sim, estamos engatinhando em tudo isso... mas agora se fala sobre isso!

Mas talvez fosse interessante batalharmos para derrubar outros muros. Não mais os muros das ideologias. O muro que está entre as pessoas atualmente.Entre psdb e pt, entre gremistas e colorados, entre professores e estudantes, entre colegas de trabalho, entre amigos de facebook, entre pedestre e motorista, entre hetero e homo, entre homem e mulher, entre negro e branco, entre rico e pobre, entre nordeste e sul...

Esse clima de raiva tem me cansado um pouco. Vale só a ressalva que esse contexto de “caos” é o que marca um momento propicio para grandes “ditaduras contemporâneas”. Desde o nazismo, passando pela ditadura do estado novo ou militar de 1964.

As pessoas procuram discursos fortes para se defenderem nessas épocas de ânimos acirrados. Atualmente, lembre-se do estado islâmico. Mas lembre-se que a única coisa que nós sabemos sobre ele é o que nossa visão ocidental nos deixa saber... (mas na pós-modernidade não tinham terminado os mega discursos? É o ocidente e o oriente, cada um no seu ritmo, ainda).

p.s: na foto o meu pedaço do muro J



terça-feira, 28 de outubro de 2014

As pessoas não estão discutindo política.
 (política mesmo, quase ninguém discute. Tem que ler, pensar, participar.  As pessoas dizem sempre que odeiam política)
Não estão opondo ideologias.
(para discuti-las tem quer conhecer, estudar,  analisar. A maioria nem sabe o que são ideologias)
Elas não estão debatendo diferentes modelos de país.
(Tem que refletir sobre economia, sociedade, história, política, minorias, legislação... poucos param para buscar informações sobre isso)
Elas nem leram os programas dos governos.
(Não foram atrás dos programas, não baixaram os pdfs não leram e refletiram sobre as propostas. Só viram propagandas, faces e debate de acusações)

Se as pessoas não gostam de política, não estudam as ideologias e os modelos de sociedade, não interferem diariamente através de atos de cidadania, o que elas estão fazendo?

Simples, elas acham que ser cidadão é ir votar! Talvez o ato menos cidadão é o fato de se ir, obrigado, a uma urna e votar em alguém. Ser cidadão é respeitar os deveres, exercer os direitos, participar e interferir na sua sociedade!

O conceito de cidadania nasce lá na Grécia antiga, em Atenas, mas naquela época nem todos eram considerados cidadãos. (Mas não tem gente agindo como se nordestino também não fosse?). Talvez não tenhamos avançado tanto assim na democracia...

Mas a cidadania se torna um marco mesmo a partir da revolução francesa, inicio da idade contemporânea e da hegemonia da democracia.  (Dessa época surgem os conceitos de direita e esquerda, ideologias e utopias que marcarão a era dos extremos na contemporaneidade)
O que se faz hoje não é discutir política.

O que estão fazendo é brigando. É um show do que não é cidadania.
É ofendendo nordestinos, opondo ricos e pobres, brancos e negros, homens e mulheres... como argumentos, usam um candidato ou outro. Eles são meramente fantoches. O Brasil precisa sim, de mais educação.

Cidadãos de facebook, aqueles estudantes que passam o ano inteiro pendurados no celular, sem ler uma linha de um livro, sem buscar saber o que é política, ideologia, sem debater em aula, sem participar, desrespeitando colegas e professores, nessa época estampam adesivos de partidos e acham que estão discutindo política. Chega ser engraçado tu perceber que as atitudes e pensamentos demonstram uma forma de ideologia e o próprio defende outra. São também aquelas dondocas que são preconceituosas, desrespeitam suas funcionárias, se acham superiores em virtude da sua grana e passam o ano todo na academia e salão de beleza, agora enchem suas camionetes importadas de adesivos e discutem política. São aqueles tios que sonegam impostos, são corruptos nas suas empresas e essa época do ano discutem política.

Para aqueles que realmente gostam de pensar política e cidadania, ficam as eleições do Uruguai. Ocorreu a disputa do primeiro turno esse final de semana. Mujica não pode ser reeleito, mas vale uma atenção a política deste país! Avanços nas discussões sobre aborto, drogas, questões de gênero e etnia. 
E juntamente com o voto para presidente os uruguaios votaram no plebiscito sobre o tema da redução da maioridade penal. E eles não aceitaram a redução! J

Cada vez mais fã deste país! Temos muito que aprender com ele.
O pior analfabeto é o analfabeto político. 

http://www.youtube.com/watch?v=Vg22b8Knf0U

quinta-feira, 23 de outubro de 2014



A culpa é da gramática.
Todos os poemas te chamam.
Tento outras, letras, temas, chamas.
Só me queimo. Leio, releio, não sinto.
Tento, invento e até minto.
Não adianta.
É teu nome que preciso.
Os outros não rimam.

É, acho que a gramática ainda te ama.



 Cego, Surdo, MuNdo.
Vejo tantos. Ouço todos.
Falo pouco. Sinto tudo.
Cego, surdo e mudo.
Sentir é minha forma,
De comunicar o mundo. 


Kamikaze.
Quando se ama, deve-se tirar o capacete.
Ir sem medo, morrer de fome ou viver com sede.
Abraço curto ou como se não houvesse amanhã.
Mas amar também é teoria? 


Alunos
Eles vestem uniformes da sociedade
Seguem a sirene do poder.
Presos em seus lugares.
Obedecem aos carcereiros.
Roubam notas.
Mas tem recreio.
É, eles estão no semiaberto. 

domingo, 19 de outubro de 2014

Essa semana que passou foi sem dúvida, especial. Afinal, celebramos o dia das crianças e dos professores. Ambos, em minha opinião, são figuras essenciais para escrevem o futuro de uma nação. Além de tudo que consigo ver em comum nestas duas categorias, que vão desde a sabedoria do erro até a alegria da ironia, nos dois casos às vezes penso que tem tudo para serem chatos. Quando não o são, então é fantástico!

Mas ambos os casos (crianças e professores) guardam uma característica que gostaria de comentar. Um tipo de olhar.  Nesta semana festiva fui a São Paulo com minha irmã. Ficamos lá somente dois dias, mas foi o suficiente para me fazer pensar nesse olhar.  O Olhar das crianças, dos professores, o olhar do turista!

Eu costumo dizer que uma das duas melhores coisas do mundo é viajar. Sim, duas porque me refiro às duas formas de viajar. Não precisamos sair de nossa cidade para viajar. Precisamos apenas sair de nossas amarras do senso comum.

Um turista, uma criança e um professor, compartilham muitas vezes aquele olhar de curiosidade, de encantamento as coisas que passam despercebidas pelos outros, vislumbram e desfrutam de outra forma o que conhecem. Como que de maneira um tanto quanto mágica ao verem as coisas, frequentemente são tratados como ingênuos, bobos ou loucos e sem noção.

Muitas vezes pensam “aah é que ele é turista/professor/criança” quando veem estas “categorias” fazendo aquilo que não temos coragem de pensar ou fazer.

Fomos para a grande metrópole da insônia para tirar os vistos para os EUA. Em São Paulo fomos recebidos por  inúmeros prédios que quase tocavam o avião antes do pouso. Gigantescos engarrafamentos  que também podiam ser vistos ainda no ar. Taxista mal-humorado, empresários arrumados e claro, atrasados. 

Naquele mar de asfalto com ondas de poluição percebíamos que dar um sorriso poderia ser menos natural do que bater na pessoa de sua frente para entrar no metrô. Porém o que nos parecia um convite para briga era algo corriqueiro e que não afetavam suas relações cotidianas.

Após uns pães de queijo, horas na fila e passaportes aprovados, começamos a aproveitar a cidade. Ainda bem que os EUA ainda não criou um detector de pensamento em seu consulado, pois meus pensamentos enquanto esperava, foram muito além das minhas habituais críticas a esse país. (Mas como sempre digo. Se queres criticar, busque conhecer para não ficar reclamando e sim criticando).
Cuidado, não estou generalizando, não estou inferiorizando ou tendo um comportamento xenófobo. Leia com atenção. Não acredito que podemos falar, e evito ao máximo, “gaúchos”, “brasileiros”, “homens”, “mulheres”, “estudantes”, “estadunidenses”. As vezes as palavras são necessárias, mas pensar assim não. Toda generalização é burra. (menos essa hehe)

Em São Paulo, embora tivéssemos pouco tempo, aproveitamos bastante. O transporte público lá, especialmente o metrô, achamos bastante útil e prático. Claro, evitando os horários de pico. A surpresa maior foi uma máquina que vende livros ao valor que tu desejar. Sim, tu diz quanto a obra vale e paga o que quiser por ela. (da para se sentir um crítico literário, pão duro ou ‘leitor’ ostentação)
 
Estação da luz, sua arquitetura, prostitutas e piano, é um conjunto interessante aos olhos. Uma mescla de culturas, histórias e cotidiano que revelam um pouco da nossa sociedade.
Pinacoteca, realmente um prédio muito lindo e por 6 reais mais do que ver as obras e exposições temporárias, podes participar do museu. Gravar depoimentos, reorganizar obras, fazer sua própria arte. Fantástica a interatividade que eles propõem.

Museu da língua portuguesa, meu favorito!  A gente é a partir da palavra. Então o museu nos explica. Emocionante todos os espaços. Senti-me mais brasileiro, mais eu, mais gente.
Por fim, mercado municipal, 25 de março, andávamos como turistas em galerias do Louvre, fui confundido com o ator do filme Jesus por um dos artistas-vendedores.

Jardim da luz, esperando o tempo, conhecemos pedintes como se fossem autores renomados que contavam suas belas histórias em troca de alguns trocados.
Comemos banquetes em padarias de ruas do centro.

Mas quando perguntávamos onde ficavam museus, como poderíamos nos deslocar, o que havia para fazer, as pessoas que moravam lá pareciam mais turistas que nós. Ou melhor, não tinham o olhar do turista, mas não conheciam. E isso não é em São Paulo, não é característica dos estadunidenses, é, infelizmente algo que tem marcado a nossa vida corrida nesse mundo pós-moderno.

Muitas vezes conhecemos a nossa cidade de maneira fria. Sem graça. Sabemos o trajeto de casa até o trabalho e a escola. Mas embora passemos todos os dias pelo mesmo caminho, não estamos atento nem mesmo as pequenas belezas deste trecho. Fones de ouvido, rádio ligado, olhar fixo e perdido ao mesmo, em nós mesmos.

Não interagimos com os outros, com a cidade, não desbravamos, não nos encantamos, não percebemos. As vezes notamos crianças, turistas e professores brincando, se encantando, tirando fotos com, falando sobre essas “coisas” que passamos diariamente sem perceber que são mais que “coisas”.

Fica o meu convite. Crie a fantasia. É uma brincadeira de criança, mas uma tarefa de professor.
Seja turista na sua cidade, no seu bairro, rua, emprego, escola, casa. Busque encontrar aquilo que está sempre ali e tu não percebe. Lembra que para viajar não precisa fazer malas? Basta fazer a cabeça. Viaje, abra mais os olhos e a mente. Seja um pouco mais criança, professor e turista no olhar. 


quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Pré – conceito. 


Preconceito é um tema que me faz pensar e questionar bastante.

Recentemente tenho percebido uma crescente discussão envolvendo o termo. Desde torcedores de futebol até gaúchos de ctg, passando por presidenciáveis e eleitores. O que me agrada.


 Etimologicamente podemos facilmente perceber, todo vez que nós primeiro agimos ou julgamos antes de realmente conhecer o conceito, estamos tendo um pré conceito.

Esses dias um amigo meu contou que estava parado com sua moto na sinaleira quando uma Kombi parou do seu lado. Como o sinal estava fechado para os carros, uma menina a caminho da escola atravessou, segundo ele, a menina de uns 9 ou 10 anos estava com um sorriso no rosto que já servia para iluminar o dia de qualquer um que rumava aos seus afazeres. Mas ao quase terminar sua travessia na faixa, os homens (se é que assim posso chamar) que estavam no automóvel, passaram a imitar sons de macacos para ela. Ele disse que a garota se transformou completamente. Mudou sua fisionomia. Ela olhou para os lados com vergonha, como se torcesse que ninguém a estivesse vendo. Ela se curvou. Escondeu-se dentro de si mesma. O sinal abriu para eles. O sinal fechou para ela. O sinal fechou pra mim. O sinal fechou para todos. Ele disse que seguiu para seu trabalho hipnotizado. Só queria poder dar um abraço naquela menina. 

Mas se estamos hoje vivendo uma época apelidada de era da informação, deveríamos ainda ter preconceitos? Sim! Primeiro vale lembrar que informação não é conhecimento. E conhecimento não é sabedoria! Embora muitas vezes usamos como quase sinônimos, guardam grandes diferenças. (sobretudo sociais). Mas enfim, outra hora pensaremos sobre isso.

O fato de termos atualmente maior acesso as informações é o que provavelmente gere um maior debate a cerca deste tema que nos permeia a vida desde a pré-história. Preconceito é algo natural! Todos nós temos. Afinal ao ver algo, primeiro automaticamente relacionamos, conectamos a outras informações, conhecimentos e sabedorias que temos dentro de nós(?) e a partir disso sai nossa impressão. Nosso pré-conceito. Aí entra a parte de não ficarmos somente com a nossa impressão e sim, transformar este pré-conceito em um conceito.

 Mas esse processo entre o pré e o pós conceito é que devemos questionar. Se sabemos que o preconceito é algo natural, o que não podemos pensar como natural é o fato de aceitar nossos preconceitos. Vamos questioná-los e transformá-los em pós!

Em um país que pela história oficial tem pouco mais de 500 anos , onde nesse período o negro, por pelo menos 300 anos era considerado menos que nada e era comercializado como escravo, fica mais simples de entender o preconceito étnico. Veja bem, entender, não achar normal. De fato a maior parte da nossa história nós vivemos tendo a certeza que o negro era sim muito inferior. Este questionamento sobre não ser, é muito recente.

 Provável que meu tataravô tenha tido escravo e ensinado ao meu bisavô que negro era escravo.
Meu bisavô que talvez tenha vivido o período da libertação dos escravos, ensinou o filho dele (meu avô) que negro era escravo liberto.

Meu avô que viveu a época em que os escravos já estavam “livres” do trabalho escravo, mas foram simplesmente libertos, sem terem terras, casas, ou algum dinheiro, ensinou meu pai que os negros eram os pobres que tinham que ir morar nas favelas/vilas, roubavam e eram maloqueiros. 

Meu pai aprendeu então de meu avô que os negros tendiam a ter e ser menos do que eles. Provavelmente meu pais estranharia se minha irmã um dia viesse a casar com um negro. Mesmo sabendo que o negro não é mais escravo, nem liberto, nem obrigatoriamente vive em favela, tampouco tende a ser pobre e muito menos cometer crime. Mas se pegarmos os dados de concentração de renda, salários, empregos, sistema carcerário, ensino privado, universidades...  Enfim, vamos perceber que ainda vivemos as heranças das amarras da escravidão de mais de 300 anos.

Eu provavelmente ensinarei ao meu filho que negros e brancos são iguais. Não são nem raças diferentes! (pra mim, ouvir racismo ainda choca) Não são raças diferentes, são etnias diferentes!!! Raça é uma só, biologicamente, humana! Então trato como preconceito étnico. (não racismo, que já é herança de preconceito)

Mas e a Patrícia?

Preconceito só deixa de ser preconceito quando não nos policiamos para pensar no que vamos falar com medo de ser julgados. Preconceito para quando nós pensamos e entendemos o conceito. E no caso, sabemos que não há superioridade ou inferioridade, apenas diferença, entre tudo e todos. E isso é ótimo.

Próximo continuaremos e passaremos do preconceito étnico para outros tipos.

ps: O desenho acima foi entregue a mim por um estudante do ensino médio. 

sábado, 11 de outubro de 2014

Cinema!

A sétima arte às vezes me soa como algo tão paradoxal e até mesmo antagônica.

Afinal, muitas vezes o cinema é pensado como algo menor. Sobretudo quando comparamo-lo ao ato da leitura, ou mesmo pensamos nos filmes que podemos assistir todos os dias na sessão da tarde.

Discuto bastante com estudantes que cursam a disciplina de História dos Meios de Comunicação comigo, sobre essa problemática. Em um filme temos literatura, afinal o roteiro é todo escrito para contar uma história. Temos o teatro, pois os atores encenam perante as câmeras. Temos música, uma vez que a trilha sonora é fundamental em um filme.  Ainda temos aspectos visuais como a fotografia e por vezes até dança. Seria um balaio de artes misturadas, não? E o fato de ser tão acessível, passar na tv aberta, ter para todos os gostos e ser considerado como algo simples e não cansativo (argumento de muitas pessoas ao compararem com livros) só me deixa ainda mais fã dele.

Eles são capazes de nos despertar os mais variados sentimentos. Aquela vontade de viver um amor igual ao casal da comédia romântica, as noites com medo daquela cena de terror, a vontade de colocar a mochila nas costas conhecer o mundo, ou mesmo aquele olhar diferente para a vida cotidiana.

Tem alguns filmes que mexeram demais comigo ao longo da minha vida. Cito alguns:

Quando bem criança, via todos dos trapalhões. Via cada um muitas vezes. Sem parar. Minha mãe conta sempre que eu sabia até as falas já. Depois lembro que o primeiro filme que assisti no cinema foi o Baby -porquinho na cidade. Depois não tem como esquecer o rei leão. Só no cinema, esse vi duas vezes. Já pré-adolescente veio o todo mundo em pânico, tantas descobertas! Na adolescência os que faziam minha cabeça eram os de shows ou documentários de bandas. Na linha do tempo foi um que me influenciou inclusive a fazer faculdade de história. Mas passei a me interessar de fato pelo cinema já mais velho, na época da faculdade. De lá pra cá tenho um filme pra cada tema, pessoa ou fase do meu dia. Na pós-graduação em comunicação, onde tive um contato maior com o mundo do cinema, comecei a desenhar um pouco meu gosto. De fato, não sou um cinéfilo, não possuo grande conhecimento sobre o tema, esqueço nome de diretores, nunca sei quem são os atores, troco as escolas, misturo os títulos, demoro para ver os que me recomendam, mas adoro a sensação de ver um filme que durante a sessão já sei que ele será de alguma forma incorporado na minha vida.
Diário de motocicleta, narradores de javé, corrente do bem, v de vingança, Amelie poulain, Palavra encantada, Vincere... bah não vai dar para citar todos que são meus favoritos.  Enfim, filmes me encantam.

Tenho como referência e adoro trocar informações sobre cinema com queridos amigos meus. Fazemos já uma tradição de apostar nossos filmes para o Oscar. Por incrível sorte ganhei as ultimas duas edições.  Para mim, esse ano, o Oscar, por enquanto vai para “mercado de noticias”. Como esse documentário fantástico do Jorge furtado sobre jornalismo e sociedade brasileira, não vai concorrer, torço muito para o “não quero voltar sozinho” nosso representante na disputa.  Belo representante, por sinal.

Para terminar, esses dias fui ao cinema, mas não escolhi o filme. Minha companhia queria ver um filme comédia romântica. Não queria, mas né, elas sempre vencem. Fui meio contrariado mas quando terminou, com um lindo sorriso, ela questionou: “Viu, fala tanto de preconceito para os outros...” Pois é, foi preconceito mesmo. Gostei do filme. “Mesmo se nada der certo”. 


Hoje minha banda toca em um show beneficente em Canoas! Não sei onde é, nem sei se tem ingresso ainda. Mas é 15 pilas para ajudar na recuperação de um grande garoto com uma rara doença. É mais para os conhecidos, familiares, vizinhos do guri, então fica o pedido para quem for de rezar, que reze, quem for de torcer, que torça, quem for do rock, aparece lá! (ta, não dei o endereço, mas quem quiser tem no face e tal) 

Fica já meu pedido, soltem mais a criança de vocês. Não só dia 12.  
Saudade do tempo que o máximo de minhas funções cumulativas era ser goleiro-linha.

Casa da praia da família, dois meses com a mesma bermuda floreada, com a dura rotina de jogar taco, pegar onda e brincar o dia inteiro com meus amigos! Ah e me deslocar somente de bike!

sábado, 4 de outubro de 2014

Política!

Hoje na fila do cinema (fui assistir ao documentário “sem pena” sobre o sistema carcerário do BR, bacana, outra hora comento ele!) ouvi duas senhoras falando que odiavam a época de política. De tanto em tanto tempo temos anos que devemos escolher nossos representantes governamentais, então para elas é tempo de política. Eleição não significa política. Aí está um grande problema.

Muitas pessoas só param para pensar sobre política nas eleições. Política é todo dia. Todos nós somos animais políticos, como diria o Aristóteles. Fazemos, obedecemos, vivemos política diariamente. A ideia da micropolítica. (ver Foucault).

A escola em que estudamos, a empresa em que trabalhamos, a nossa casa.... cada ambiente tem sua própria política. Tem suas normas, tem seus governantes, tem suas relações de poder, práticas, enfim. Sem política existe o que? Antes que alguém observe, o próprio anarquismo, é uma forma de sistema político. (ver anarquismo)

A questão é que a política pode ser uma arte. Mas ela pode ser um saco, também. Depende de quem? Não existe poder sozinho, já percebeu? Pra ter poder tem que ter relação. Não existe governante sem governados.

Ontem ouvi o presidente do TSE dizendo que o Brasil é a terceira maior democracia do mundo e tem o sistema eleitoral mais seguro de todos .  E isso não é só a opinião dele. Hoje li em uma revista que 28% da população não soube responder o nome de seu atual governador. E isso também não é só a visão da pesquisa da revista.

Atualmente o mundo encara a democracia como a melhor e mais justa forma de política. O que não significa que não tenha outras. É um erro muitas vezes pensar que a democracia é um sistema que busca a contentar e respeita a vontade de todos. Democracia é  vontade da maioria.  E a minoria? Pois é... Afinal se a minoria quiser um candidato, mas a maioria quiser outro... Azar é da minoria.

Importante lembrar que, embora já tivéssemos uma ideia de democracia na polis ateniense durante a Grécia antiga, é somente a partir dos iluministas e revolução francesa (1789) que se põe fim ao absolutismo dos reis e começamos a pensar que a democracia é o melhor sistema politico. Daí pra frente até os dias de hoje, é o regime que prevalece.

Tivemos regimes totalitários como fascismo, nazismo, socialismo, que ameaçaram ou derrubaram o sistema democrático durante a idade contemporânea, mas a democracia capitalista ainda impera.

Mas hoje queria pensar essa forma de governo mais especificamente em nosso país. Afinal, sempre escuto “a política no Brasil é uma droga”. Geralmente é o que escutamos dos nossos pais, vizinhos ou nos meios de comunicação. Mas vamos por partes... até 1889 nós tínhamos um imperador (Dom Pedro II, que por sinal, tornou-se nosso governante com 12 anos de idade e governos até 65. Isso mesmo, 12 anos!!!)

A partir dos anos 1900 inicia nossa democracia! Mas calma aí. Era uma democracia “café com leite”, com revezamento arranjado entre SP e MG onde o voto não era secreto, mulher não votava e o “cidadão” ia acompanhado de jagunços do coronel “votar” em que “deveria”.

Esse sistema termina em 1930 com um golpe do Vargas. Por sinal, Getúlio fica no governo, sem ser eleito diretamente nenhuma vez, até o fim da sua ditadura (ver Estado Novo) em 1945.
Ou seja, vamos começar a votar mesmo, exercer esse direito da cidadania em 1945. 
Mas calma aí. Dura pouco. Em 1964 golpe militar! Fim da democracia por mais 21 anos.  Só em 1985 então podemos votar para presidente. De lá pra cá, com Collor no caminho,não temos 30 anos de prática democrática.

Moral da história: Somos uma democracia ainda criança. Estamos aprendendo a viver em democracia. Minha opinião, estamos aprendendo rápido e de uma forma bastante interessante. Sim, eu admiro bastante a política brasileira. Basta fazer uma analise mais aprofundada e se desvencilhar da opinião do vizinho que é corrupto na empresa mas odeia política, do irmão que não estuda, cola na escola e odeia política, do parente que fura a fila e odeia a política. Afinal, na política são todos corruptos.

Não esqueça: exercer a cidadania não é ir, obrigatoriamente dar seu voto no domingo. Exercer a cidadania é ter direito e deveres, é respeitá-los para poder cobrá-los, é interferir na sua sociedade.
Enfim, política e cidadania são todos os dias! Problema que  as pessoas lembram disso só nas eleições... Só me venha reclamar da política, se fizer a sua parte!

Por hora, fica a dica de alguns sites para visitar antes de votar: 
- Sites onde você poderá ver a frequência/projetos/gastos... )


Não seja um analfabeto político. http://www.youtube.com/watch?v=2RwJemF_9tY

Entre atos (filme tri pra pensar o processo político)
Aaah falei bem da política, mas nunca podemos olhar só um lado. Procuro ver aquele que noto estar esquecido, porém aqui vai minha crítica a forma que nossa política, embora melhorando muito, ainda caminha: http://www.youtube.com/watch?v=6qVWBVF2Oqk

ps. Hoje tem show de lançamento do Rock de Galpão no teatro da Feevale em NH. Vale a pena conferir. Rola às 21h. Vou estar lá! :)



quarta-feira, 1 de outubro de 2014

211/212 
Esta semana uma forte dor de garganta tem me acompanhado. Desta forma, combinei com alguns queridos estudantes de uma instituição que iria escrever aqui sobre algumas questões que essa enfermidade impossibilitou de versar mais em aula. (abro então uma exceção para escrever sobre isso)

Estamos estudando o fim do período antigo e consequentemente o inicio da idade média. Os próprios termos que denominam os períodos já deveriam merecer uma pausa para reflexão. Por que será “antiga” e “média”?

Claro que pergunto algo a mais do que a simples interpretação positivista de uma evolução ao longo de uma ordem cronológica. Vale lembrar que os caras que estão vivendo um período histórico (sobretudo antes do século XIX – 1800....) não sabiam que período estavam vivendo, uma vez que pensadores nomeiam a partir de um distanciamento, anos além.

Para citar um exemplo, a idade média é encarada assim, muitas vezes como a era “mais ou menos”, sombria, sem avanços, um período de retrocesso guiado pela igreja católica, porque quem a denominou “média” foram os pensadores modernos, renascentistas e sobretudo iluministas (que viveram a mudança da idade moderna para a contemporânea) e portanto criticavam o poder e os valores da igreja e do absolutismo dos reis).

Logo, para eles, o pensamento e as estruturas medievais eram “menores”, “ultrapassadas” e eles viam valores mais claros de progresso através da ciência e da república. (só pra lembrar, segundo muitos pensadores já não vivemos mais a contemporânea e sim a pós moderna, que teria começado pelos anos 1990 – mas isso é tema para outro papo)

Mas o que nos interessa agora é que esse período de transição da antiguidade para a idade média é marcada por uma troca de poder e saber. O marco adotado foi a queda do império romano. (o maior da antiguidade). Vale lembrar que o que caiu foi o império do ocidente, já que como os romanos entraram em crise, antes da queda, eles dividiram-se entre império romano do oriente e ocidente.
Essa crise e transição se dá com as constantes invasões dos vizinhos bárbaros. Vocês tem também algum vizinho bárbaro? Quem não tem né? A minha é extremamente violenta comigo quando liga seu rádio a todo volume com seu gosto musical duvidoso.  (se bem que ultimamente andei escutando a rádio dela pra prestigiar um novo hit que vai virar clássico. O que a gente não faz pelos amigos. Clair me deve essa)

Mas de onde vim o termo “bárbaros” ou “barbárie”? Muitas vezes os pensamos ligados à violência e inferioridade. (outro exemplo como o de idade “média”) que é visto por inferiores por outros. Se derem conta de tudo que usamos ou vivemos, se torna assim, verdade, concreto, mas nada mais é do que a interpretação de alguém? (grande chave do raciocínio).

Bárbaros eram os povos vizinhos dos romanos (que se julgavam superior e interpretavam seus vizinhos como inferiores). Vândalo por exemplo, que é aquele que faz vandalismo hoje pra nós (e segundo a tv são aqueles que destroem lojas e não os governantes que destroem vidas) é o nome simplesmente de um povo antigo. Para os romanos, eles eram violentos e portanto usamos o nome desse povo como usamos hoje.

Mas vamos adiante. Com a invasão dos povos vizinhos, entre eles os vândalos... o império romano que já estava marcado por uma grande crise acaba ruindo e marcando o inicio da idade média.
Na idade média, período que dura uns mil anos, você deve lembrar do feudalismo e saber que quem detinha o poder era a igreja católica. Vale lembrar que o que vai balizar as estruturas e a mentalidade de todo esse período tinha sido tornado oficial há pouco tempo. Já que até então imperava o politeísmo.

Esse processo pode ser acompanhado em um filme que ganhou muitos prêmios internacionais e que figura nas listas das melhores comédias do mundo (a vida de brian). Importante: não é um filme “fácil”. Muitas vezes podemos desmembrar várias camadas nele. Então pode ter quem entenda tudo e ache muito crítico e engraçado e quem só entenda as piadas mais escrachadas e menos profundas e o ache patético. De forma geral ele gera extremismos. Embora seja do final dos anos 1970 e possua uma fotografia ruim/dublagem fraca, acredito que valha a pena assisti-lo.

É uma forma crítica e bem humorada de pensar o cristianismo e o fim da antiguidade. A crítica não precisa sempre ser aquela coisa com cara de mal, né?

Mas lembram de que vocês chegaram a ideia de que o filme mostra que Brian não queria ser seguido e mesmo assim foi? Queria que as pessoas pensassem por si, mas todos acabaram pensando por ele? (será que podemos notar isso até os dias de hoje? Próxima aula quero uma chuva de exemplos disso!!)

Então chegamos a ideia de que aquilo que não era nada mais que uma brincadeira, ou que era seguido por uma minoria/ geralmente proibido, se torna oficial. Então por estar ao lado do poder, todos seguem e vira verdade. Assim como o “bárbaro”, “vandalismo”, “idade média”....

Isso faz a gente pensar que tudo que usamos, vivemos, vimos, está baseado em criações. Tudo é criado. Tudo nasce como uma ideia. E quando essa ideia é divulgada, sobretudo por mecanismos de poder, ela se torna uma verdade. Se é verdade/lei... passa a ser entendido como certo.  Logo, não existe verdade, lei, certo que não seja criado! E portanto fruto da mentalidade de uma época. O que era certo na idade média é visto errado como hoje. O que vemos errado hoje, provavelmente será aceito e incentivado daqui alguns anos... e assim as coisas vão mudando!

Que bom! O problema é quando aceitamos que existem verdades absolutas. Que as coisas são concretas e que não podemos criar outras!!!! Criar novas religiões, novas ideologias, sistemas políticos, formas de educação.... mas tudo isso só muda se primeiro tivermos ideias.

Sacaram agora a relação com o trabalho da utopia? Pensar sobre isso não deixa de ser exercer a cidadania. Mas voltaremos nesse tema! Por hora, faça como o Brian “Olhe sempre pro lado bom da vida” (essa música fica de uma maneira na cabeça do cara....)http://www.youtube.com/watch?v=vJowxFv96ig

domingo, 28 de setembro de 2014

Eu tenho que confessar algo. Falo palavrão. E o pior, não vejo problema nisso.

Já tive muitos problemas por conta desta prática. Uma simples reclamação no trânsito pode se tornar um grande problema por causa disso. Uma aula sobre a complexidade do ser em filosofia pode se tornar nada, por isso. Um elogio para a namorada pode se tornar uma ofensa por causa disso. E já repensei tanto sobre isso. Não consigo.

Sou bastante crítico e na mesma medida, sensível. Essa combinação pode ser perigosa, mas me agrada quando a vejo em alguém. Porém para quem tende a lidar com estas características, comumente, sobretudo quando gosta de debater, discutir, trocar, conversar, sobre tudo, age com a dupla: razão/emoção e, no meu caso, como filho geralmente sai um palavrão. É uma expressão do que estou sentindo, pensando, lutando, sonhando.

Semana passada, estava explicando para um estudante que o trabalho de ação social que teria que fazer tinha que ser algo realmente bacana! Algo que mexesse de alguma forma com eles e com demais seres sociais. Ele veio me falar de trabalhar a solidariedade, abraços grátis, carinho ao próximo... baseado em um vídeo bacana que anda rolando por aí. Falei que podia ser algo nesse sentido, mas podiam se esforçar mais ainda. É um trabalho que realizei já em diferentes escolas e os estudantes, geralmente em grupo, tem que apresentar alguma ação que vai “mudar o mundo”. Não raro, passo primeiramente o filme “corrente do bem” para puxarmos o projeto. Discutimos, lemos, trocamos, fazemos. Geralmente saem trabalhos lindos. Desde ações em creches, asilos, doação de sangue, conscientização sobre os mais variados temas, de forma tocante e que traz muito mais que conceitos ou notas, sensações prazerosas para mim, para os componentes dos grupos, colegas que assistem e as pessoas que recebem a ação social.

Mas para explicar o trabalho, deixei escapar que tinha que ser algo foda.
Foi meu erro mortal. Ali já não importava nada.

Uma mãe que estava ao lado, e até então não tinha visto, perguntou quem eu era. Reclamou para a tia da cantina. Deve ter falado para o marido, a vizinha, a irmã, o amante, as professoras e o diretor. Onde já se viu, um professor assim. Por isso a educação está desse jeito.

Não, não sei se ela falou isso. Mas por ter experiência na área e já ser chamado algumas vezes por algo parecido, imagino. Geralmente meus coordenadores, diretores e afins, me conhecem e dizem que estão fazendo para cumprir a norma e etc. Que talvez para eu tentar usar uma outra palavra, se der. Não da. Nunca da.

Acredito que seja um defeito meu, mas por que não mudar então a tia que ouviu tudo e só escutou o “foda”. Prefiro mil vezes falar um palavrão do que agir como um palavrão. O palavrão é uma palavra. Afinal, porque podemos falar fazer amor, transar e não podemos, de forma alguma, falar foda. Sem contar que ela nem entrou como algo relacionado ao sexo.

Nunca esqueço de um sarau que organizei com saudosos estudantes muito queridos de um curso técnico em biblioteconomia . Foi tudo muito tri! No final ainda, recebi uma homenagem muito linda deles, e ali, sem saber o que dizer, só consegui dizer “bah, vocês é que são foda”. Minha diretora da época estava lá. Ela me olhou... uma senhora, uns 60 anos, muito elegante, inteligente, refinada, séria e acima de tudo, comprometida com a educação. Ela me olhou, eu já pensando sobre o palavrão que escapou, imaginando o que eu falaria para me desculpar, deveria estar vermelho e trêmulo... depois de alguns segundos ela disse “Foda é tu Ralph”. Guardei como um dos mais importantes elogios da minha vida.

Tem palavras que hoje são palavrões e chocam e daqui 10 anos serão corriqueiras. Como do contrário também existe. Um exemplo para ilustrar: Coitado. Coitado não é palavrão hoje. Para quem não está ligado, coitado vem de alguém que sofreu coito. Pois é...

Como reflexão sobre isso, deixo uma música que gosto muito! É linda e provocativa sobre esse tema.

Para a senhora essa que me ouviu na cantina: Com todo meu respeito, vai se...   preocupar com algo mais importante.


quarta-feira, 24 de setembro de 2014

                                            7 e 20 de setembro

Estamos em um mês que sempre me gerou reflexões sobre a temática de identidade.

O conceito é um dos que me desperta maior curiosidade. Desde o primordial conhece-te a ti mesmo, para mim, uma frase que todos deveriam ter tatuada na mente, até a identidade de uma nação. Atualmente estou lendo Edgar Morin que fala inclusive em identidade planetária.

Mas enfim, desde muito cedo nas minhas pesquisas acadêmicas, busquei estudar a construção de identidade. Aquilo que nos identifica, que diz o que/quem somos. Mas mais do que simples característica selecionadas, é um processo de inclusão/exclusão, uma disputa de poderes, entra história, psicologia, sociologia, linguagens, cultura de uma forma geral. Talvez uma das palavras-chave seja interpretação.

 O que é o Ralph? O que é o Rio Grande do Sul? O que é o Brasil?
As identidades são construídas a partir de seleção que fazemos para moldar, a partir de nossa interpretação (que muitas vezes pode ser manipulada) algo ou alguém? 

É corriqueiro para mim, pensar sobre esses temas, seja na escola, família, amigos. E é interessante como geralmente constato uma espécie de interpretação coletiva para o mesmo sentido. Sim, mas isso parece óbvio! Não!!! Porque quando passo a cutucar e ir mais além as pessoas se dão conta que a identidade que tem de determinada coisa é fruto de uma interpretação que já recebeu pronta!
Não é mais surpreendente para mim, ouvir que o Brasil é futebol, sol, praia, samba, calor e carnaval e corrupção. Mesmo estando no inverno gaúcho em uma turma onde ninguém comemore o carnaval, poucos acompanhem o futebol e ninguém passe mais que 15 dias na praia por ano ou diga que é corrupto.

E por que para eles o Brasil é isso? Seria porque para outros o Brasil é isso. Logo, deixam de interpretar para reproduzir. Pena. Mas não vou me estender aqui falando das diferentes interpretações que podemos fazer da diversidade cultural brasileira. Para isso, deixo a dica de Roberto da Matta. 
Mas o questionamento que me faço é sobre a diferença, que esse mês é escancarada entre a nossa interpretação de identidade brasileira e identidade gaúcha!

7 de setembro comemoramos a independência do Brasil (que quem estuda um pouco o processo, percebe que não é bem o dia 7 que deveria ser comemorado, mas não vamos entrar nisso também.) A questão é: Por que dia 7 de setembro não passa mais do que um feriado e um dia em que alguns estudantes tem que obrigatoriamente murmurar um hino enquanto dia 20 de setembro todos gostam de, trajados ao modo gaúcho, cantar a todos pulmões o hino do estado.

 Por que temos orgulho de ser gaúcho mas vergonha de ser brasileiro? Para ser gaúcho não precisa ser brasileiro? No Rio Grande do Sul não tivemos escravidão? Não fomos explorados? Não há políticos corruptos? Não tem preconceito? Tudo funciona? Não tem bagunça?  O RS tem mais tradição? Mesmo sendo mais recente sua povoação que do resto do país? Mas tradição não é invenção? É sim. Leia o “invenção das tradições” e verás que o “tradicionalismo” gaúcho por exemplo não tem  nem 100 anos. Segundo o próprio Paixão côrtes! (para os gaúchos que não sabem, o "laçador")

Talvez a imagem que temos do Brasil não seja a nossa interpretação e sim o que aceitamos como a seleção do que vemos na mídia. (que como é majoritariamente produzida no sudeste, seleciona aspectos longes da nossa realidade). Talvez a história do nosso estado seja menos criticada e discutida, pois ainda mantemos como algo positivista, quase mítico e sem questionarmos, por exemplo, uma revolução que foi uma guerra civil ou uma vitória que foi uma rendição? 

Penso que cada vez mais está sendo repensada a identidade brasileira e isso traz a participação de todos os povos e culturas na formação do que é nosso país. Respeitar e admirar essa diversidade é algo que é fundamental. Já o nosso estado, muitas vezes parece ter parado no tempo e só pensa o gaúcho como o homem, do campo, farroupilha, que monta a cavalo e só aparece na semana do gaúcho. Hora de repensarmos a identidade, não? Do Brasil e do Rio Grande do Sul. Antes que queiram me queimar vivo em um ctg, digo que amo o meu estado e a diversidade cultural que encontro nele, tanto quanto o meu país.

 Penso por fim, que essa diferença entre sentir orgulho de um e vergonha do outra deve ser interpretada! Por que será? Pra terminar: Identidade também é sentimento, emoção, e aí palavras, conceitos e leituras não são suficientes. Confesso que ao ouvir o hino do RS, pilchado no piquete, sinto algo que não sinto no do Brasil. Por que será? Ficam dos vídeos/canções que podem conduzir sua reflexão:
 https://www.youtube.com/watch?v=hkiSUKxYBVE - Sob o mesmo céu - Lênine versando sobre a identidade brasileira.

https://www.youtube.com/watch?v=ZQUbaUOymro - Guri - Neto fagundes com estado das coisas, uma versão rock and roll. 

quarta-feira, 17 de setembro de 2014


 Um blog?
Sempre fui de seguir as novidades... Anos depois que elas não representassem mais o novo.
Considero-me amigo do tempo. Dedico-me a estudar sua relação com a gente.
Respeito o tempo. Chegou o tempo de eu ter um blog.

A melhor definição de um blog que já li, vi ouvi e senti foi “é como uma garrafa que se joga no oceano com alguma carta dentro”. Alguém talvez leia. Mas o que importa? Não cito o autor porque como de costume, misturo, já não sei quem foi. Amo misturar. Nesse caso, um tropicalista praticamente. Já me disseram que eu explico muito bem. Mas guardo todas as vezes que dizem que confundo muito bem. Prefiro a segunda, e como o Vargas, prefiro ser interpretado a explicado.
Mas sem mais delongas e de forma mais prática, vamos lá! O que vai ser esse blog? Para que(m) esse blog e por que utopia?
Começo pelo fim, diferentemente do Raul Seixas.
Utopia é uma das palavras mais belas no meu mundo. Gosto das palavras, acho que elas realmente constroem a realidade, sinto o poder que elas carregam e gosto de estar com elas.
Etimologicamente utopia significa lugar nenhum. É uma palavra que vem do grego. E o que não vem deles? (Mas e o que eles não copiaram do oriente? Na escola sempre a visão eurocêntrica....) É, eu falo abrindo mil parênteses, sempre que estou sozinho. Alias agora não falo mais abrir parênteses, abro hiperlinks. Enfim, mais que o significado etimológico ou do senso comum que usamos como algo próximo a sonho, que será difícil ou impossível de realizar... utopia para o Ralph é todo dia.
Eu vivo mergulhado em utopias, corro o perigo de nadar contra toda a maré, mas se me afogar, que seja assim.
Enfim, não respondi no fim nenhuma das perguntas? Melhor assim. Prefiro perguntar do que responder. As perguntas movem o mundo e provavelmente moverão o meu blog.
A que está na minha cabeça agora é por que um blog?
Mas enquanto isso, utopia também é um livro. Thomas Morus escreveu como seria uma ilha perfeita. Esse cara escreveu no século XVI o que seria a sociedade perfeita para ele. E neste breve livro aparecem conceitos como divórcio, eutanásia, consumismo.... ou estou misturando. Leia ele! E misture. Alguém dizia que se tu leres 5 livros em um mês, grande bosta. Mas se tu leres somente um, e com esse um, estabelecer conexões, trocar ideias, compartilhar e discutir com o autor em pensamento, tu fez um grande proveito. 
Isso de imaginar as coisas ainda nos levará longe. Alguém deve ter dito isso também.
Aquele papo do Descartes de penso logo existo, faz todo sentido. O que temos que não foi pensado antes? Pensei em ter esse blog.
Agora, pra finalizar o texto de hoje, queria dizer que propus aos meus estudantes criarem uma sociedade perfeita. A partir das sociedades antigas que estudamos (Egito, Mesopotâmia, Hebreus, Fenícios....) Esse pessoal que lembramos da escola e que achamos que não serve pra nada. E por parte disso, não entendemos as guerras que o jornal nacional conta do oriente médio.
Enfim, li os textos e ouvi as apresentações. Várias emoções diferentes me vieram.  (disfarcei quando as lágrimas quase transbordaram). Enfim, por hoje, pensar, sonhar, escrever e mais adiante, fazer.
Não vou escrever sobre como seria minha utopia. Deixo minha pergunta: Em tempos de campanhas eleitorais, onde cada candidato comenta sobre suas utopias (que a primeira vista parecem todas iguais e sem graça), como seria sua utopia?
 Fica a dica - Utopia (livro) está completo na net, no site domínio público.