sábado, 21 de setembro de 2019

O Amor atravessa na faixa



Dirigindo pela cidade tenho a impressão que estamos todos apressados para chegar aonde não queremos. Parece uma espécie de gincana onde quem perder menos é o campeão. Essa competição motorizada que inclui violência, intolerância e barbárie, nos causa a impressão que não há espaço para o trânsito dentro de uma civilidade.

Ao sair de casa com meu cronômetro regressivo ligado, armado em meu tanque popular 1.0 me deparo com um homem de meia idade atravessando a rua calmamente com seu cachorro. Por um instinto de cuidado com o animal, resolvo parar e deixá-lo atravessar com seu dono. Mas ao me ver eles param e com um olhar que emana a mais profunda doçura acenam em sinal de agradecimento.

Aquele gesto tão simples, quase imperceptível nas grandes questões cotidianas, me paralisa. Me faz querer sua amizade. E se nós marcássemos um churrasco? Ou pelo menos um convite para tomar um chopp? Poderíamos virar grandes amigos e sair para jogar bola com o cachorro. E se todos vivêssemos em paz, sorrisos e agradecimentos, em um mundo das delicadezas?

 Em poucos segundos, enquanto essa história se forma na minha cabeça ingênua, já sou jogado de volta a selva urbana por buzinas que gritam atrás de mim. Já havia se formado uma fila de dois outros automóveis impacientes. Acho que é impossível o amor no tráfego. Engato a primeira e percebo que o mundo continua parado. As placas seguem não apontando o destino.





terça-feira, 10 de setembro de 2019

Meu prato favorito!


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Desde pequeno quando sou questionado sobre qual o meu prato favorito, causo estranhamento., Ao responder – Cless, sou assistido por expressões de curiosidade ou incompreensão. Fustigado por perguntas:  O que? Como? O que é isso? Que gosto tem? Lembro que ainda criança me enchia de orgulho e prontamente ia esclarecendo que era uma comida alemã feita pela minha avó. (Continuo com a impressão de ser um prato original dela)
Dia de Cless era um ritual. Preparar calmamente a massa, bater forte por minutos, cortar em miúdos pedaços, colocar pra ferver e por fim mergulhar no molho. Minhas preferências sempre foram a massa mais grossa e pouco molho. 
Recordo o aroma do molho vermelho ilhado por carne de panela, conversas na cozinha, e principalmente a alegria de esperar aquela comida ser servida como atração principal do almoço. Minha avó sempre soube que era meu prato favorito e, portanto, fazia dele um rito. Cless pro Rafa. (Ela me chamava assim)
Nunca comi menos que três pratos. Só não repetia mais vezes para deixar um pouco para saborear na janta. Lembro de já na adolescência minha vó, aos poucos ir ficando mais debilitada e minha mãe foi assumindo o papel da principal cozinheira da iguaria.  Ela não sabe, mas nunca ficou igual ao da vó. 
Hoje tenho claro que eu nem gosto tanto assim de Cless. Eu sempre gostei mesmo foi do carinho que vinha de recheio. No tempero do afeto. E principalmente do sabor de amor que eu sentia toda vez que tinha Cless.