sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Iluminismo nas eleições brasileiras




  A contemporaneidade inicia-se com a revolução francesa de 1789. Ela, em resumo foi a prática de ideais iluministas como a liberdade política e econômica, o racionalismo e a defesa por uma igualdade social. Em uma única palavra: república. Com o slogan de liberdade, igualdade e fraternidade, os franceses abolem o absolutismo monárquico e instauram a política republicana.

Essa ideia requer a divisão dos três poderes, proposta pelo filósofo Montesquieu. O controle não estaria mais concentrado em um líder absoluto. As decisões agora dependeriam de um processo mais complexo, democrático e plural.

 Porém, quase 230 anos depois da queda da bastilha, ainda temos dificuldade de compreender a república. Teremos eleições em outubro e estamos todos focados estritamente nos candidatos do poder executivo. Como se o governo dependesse unicamente do presidente e ele sozinho fosse capaz de salvar ou afundar a nação.

 Reforço a importância de estarmos atentos à disputa presidencial em um momento onde nem todos candidatos parecem primar pela continuidade do modelo político democrático. Porém, a questão central do texto é perceber que se não houver mudança significativa no legislativo, não há como pensarmos em alguma transformação significativa.

 Deputados e senadores escolhidos nesse ano tem a responsabilidade de elaborar e discutir as leis que guiarão a sociedade, bem como fiscalizar o trabalho do executivo. Em centenas, estarão divididos entre o congresso e as assembleias, ganhando salários muitas vezes não compatíveis com seus discursos, assiduidade ou a pouca efetividade na vida do cidadão. Possuímos o legislativo mais conservador desde a época da ditadura. E ao que tudo indica, nessas eleições haverá a menor renovação dos últimos anos.

Cômodo ou ingênuo seria pensarmos que todo o legislativo está fadado ao trabalho incompetente e antiético; ou acreditar que o Brasil mudará somente pelo poder executivo. Pobre do país que precisa de heróis. Em uma república precisamos pensar e viver o coletivo. Pesquisar e acompanhar o legislativo é o primeiro passo para vivermos um país efetivamente republicano.

ps. A fotografia dessa publicação é em homenagem ao dia dos psicólogos e psicologas que ocorreu nessa semana. O agradecimento e admiração por estas pessoas que através da escuta auxiliam na transformação.

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

A outra História do Mundo: Um filme agridoce.




Do título a fotografia, passando pelos diálogo e a história pessoal de cada personagem, o filme merece o adjetivo de uma verdadeira obra de arte. 

O longa em tom agridoce consegue a façanha de tratar de um tema espinhoso focando na beleza que aflora da humanidade. Em uma mistura de drama, comédia com pitadas de experimentalismo e as vezes umas tiradas mais populares a película consegue ser na medida. Consegue trazer a inteligência sensível de um filme cult mas sem ser chato ou cansativo. Traz o riso de uma comédia mas sem ser bobo ou ingênuo. Consegue tratar de uma forma leve um tema complexo sem ser simplista. 

A história, em síntese se passa numa simpática cidade do interior uruguaio. Mosquitos é um município fictício onde em plena ditadura militar dois amigos resolvem utilizar a forma mais revolucionária de contestar: o humor. 

Esnal e Milo são homens de mais de 40 anos que se divertem em um misto de intelectualidade despretensiosa e brincadeiras para excêntricas. Ao um general se mudar para a cidade deles e no seu quadro de autoritarismo tosco obrigar fechar os bares as 22h, a dupla se organizar para roubar os anões de jardins do militar. (Que traz inúmeras possibilidades de interpretação). 
De uma forma cômica e revolucionária eles colocaram o plano em prática mas acabam sendo descobertos. Um deles é preso pelos militares e o outro se esconde e passa a viver recluso na sua própria solidão depressiva. 

Com incentivo da filha de Milo, o Esnal deixa seu isolamento e cria um plano inusitado porém óbvio para salvar o amigo. (Nesse momento temos uma grande aula sobre a importância da educação e em especial da história). A história é um instrumento revolucionário... 

Cada personagem tem uma história própria e muito rica que se intercala com uma lindíssima trilha sonora. A produção é uma parceria da Argentina, Uruguai e Brasil. A direção brilhante é de Guilhermo Casanova.  Os atores Roberto Suárez e César Troncoso, assim como o restante do elenco fazem um trabalho sutil e primoroso. A trama é inspirada em um romance chamado Alívio de Luto, do uruguaio Mário Delgado Aparain. 

Como pano de fundo o muy amable Uruguai que representa a identidade latina que é estampada com uma mescla de humor, luta, sorrisos e sangue que formam um quadro que poderia ser de qualquer país do nosso continente. 

Necessário e saudável para nossos tempos, recomendo com veemência que assistam esse filme. Prometo que alcançarão diferentes emoções. Saímos do cinema cantarolando Belchior, mais leves e dispostos a fazer da nossa sociedade um lugar melhor. 





Na fotografia um retrato dos amigos (Milo e Esnal) que nos convidam a pensar sobre a história, política, relações, sentimentos e emoções.