sábado, 15 de agosto de 2015

É preciso estar atento!


Tenho aprendido muito com a minha gata. Os felinos tem todo um charme, independência, mistério e um ar de superioridade sobre nós, resto das categorias animalescas. Não à toa eram considerados sagrados no Egito antigo. (por ser uma civilização que era sustentada pela sua agricultura a base do Nilo, se os ratos destruíssem os grãos, era crise certa! Gatos protegiam os grãos, a agricultura, a civilização).

Também tem o lance do gato ter sete vidas. (nove, em alguns países) Tem a forma personalizada de pedirem carinho e sua mania de tomar água sempre corrente. Já notaram o quanto as senhoras sábias possuem gatos como companhia? As gurias e caras mais interessantes também. Esses dias esperando em um veterinário com meu cão, minha gata e minha irmã, reparava a diferença entre donos de cães e donos de gatos. (ok, minha tese é um estereótipo e está cheia de preconceitos, mas bah! Muito diferente e perceptível)

Os gatos têm muito a ensinar. Talvez aqueles que vivem em sua companhia se tornem um pouco mais “felinos”. (Claro, desde que estejam dispostos a isso!). Isso me lembra de Enem e educação. Uma vez ouvi alguém dizendo que tinha ensinado seu gato falar francês. (Nossa!!!, pensei. E antes de qualquer pergunta a pessoa respondeu “se ele aprendeu eu não sei, mas ensinei”). A moral é, resultado do Enem (em último caso, qualquer processo de construção de conhecimento) depende de quem? Do gato ou da professora de francês?

Mas sobre a minha gata, que não fala francês . (ao menos, se fala não me ensinou ainda. Talvez saiba que só enrolo e demoro para aprender a gramática) Ela tem me ensinado no exemplo. (e tem outra forma?)

Desde sempre, ela passa por cima de mim enquanto estou deitado, desfila vagarosamente pela minha escrivaninha e para na frente da minha na janela. Mia para eu abrir a janela e ela poder dar um passeio. (isso é no horário que ela quiser e independe do que eu esteja fazendo). Pode ser 3 da tarde onde estou lendo, 11 da noite e eu esteja indo dormir ou 4 da manhã e eu esteja dormindo.) e mia! Mas mia! Com aquele miado que começa mais melodioso e curto e vai ficando rouco, bravo e aumentando o volume. Vou lá e abro, sempre. (não por ser legal, mas por voltar a fazer o que estava fazendo).

De uns dias pra cá, como que percebendo minhas fraquezas, ela resolveu me ensinar algo novo. Ela vai e silenciosamente fica paradinha em frente a janela. Já fiz testes, ela fica o tempo que eu demorar, em total ausência de som. A hora que abro ela sai correndo. Talvez ela tenha percebido que já aprendida a primeira lição (estar sempre disposto a auxiliar os outros, sobretudo os que por algum motivo, estejam em situação menos oportuna. A perceber a superioridade da fauna e da flora em relação a nossa breve participação aqui na terra. A servir os seres fêmeas sem pensar estar fazendo um favor. A entender a beleza da rotina. A não ficar irritado e abrir a janela com sorriso no rosto, mesmo as 3:30 da manhã de inverno. A sempre lembrar que podemos abrir a janela para ver mais longe

Mas a tarefa nova, é a do silêncio. É o exemplo de - “Ralph, não adianta gritar, espernear, brigar pelo que tu quer até ficar rouco. Não aja tanto por instinto, respire antes de argumentar. Espere. Tudo tem seu tempo. Observe as pausas, respeite os intervalos”.
Confesso que essa é ainda mais difícil. Mas ela está me ensinando. Certamente deve pensar “eu estou ensinando, se ele aprenderá, eu não sei”.

O resultado do Enem, o dono da gata ou a civilização egípcia dependem em parte do contexto socioeconômico, do capital cultural, do seu entorno e de ti! É muita fala para explicar que a alegria que o Grêmio me deu é simples, é muito número pra entender um resultado do Enem que poucas palavras explicam, é muita vida para um gato que consegue passar tudo em poucos dias. Precisamos é estar atentos!


* Na foto, a Tchuca e a janela no momento em que escrevo. 

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Espelhos, humanos e revoluções

                      

Aproveitando que no post anterior falei sobre minha fé no ser humano, na minha crença na humanidade e no meu otimismo de que as coisas estão piorando cada vez menos, me permito a questionar e criticar algumas questões da nossa raça.

O ser humano desde seu surgimento lá na distante “pré-história” (conceito que guarda a visão conservadora e tradicional do paradigma positivista que pensa a história como sendo possível através da escrita e de documentos oficiais para comprovar os grandes fatos) possui comportamento e relações de poder que interferem nas suas decisões e organizações em sociedade.

Saindo da África arqueológica e entrando nos pós-neolítico e idade dos metais, já com a prática da agricultura e organizações sociais mais desenvolvidas no aspecto de governo, economia, religião e legislação, o ser humano passa a ser cada vez mais homem e menos bicho. Sobretudo no sentido de guiar-se cada vez mais pela cultura e menos pelos seus instintos. Passamos a fingir e consequentemente criamos a sociedade. Inventamos leis, regras, certo e errado, moral, educação, deuses, explicações e dai para frente vivemos uma constante transformação.

Desde a teocracia, o politeísmo mitológico e a agricultura sustentada ainda por escravos, passando pelos senhores feudais e igreja católica, reis, ciência e burgueses, até os presidentes e a mídia fomos vivenciando diferentes formas de organização social e relações de poder.

Em cada época temos uma construção de mentalidade que está associada a algum organismo que era legitimado através da população nesta relação de poderes. Todo período guarda então uma série de regras, normas, leis, certos e errados. Como consequência temos as desigualdades econômicas, sociais, os excluídos e preconceitos.  Temos também junto a isso as tentativas de mudanças e revoluções.

Seja o rei para ficar no lugar do ser mais forte, a igreja para ficar no lugar do politeísmo, o rei pra mandar nos senhores feudais, a ciência para derrubar o rei, o burguês para controlar a economia, o presidente para comandar a nação e quem para comandar tudo isso, hoje?

Para além da questão midiática que está associada intrinsicamente nesse processo contemporâneo como elemento de construção de uma percepção da realidade e das grandes empresas associadas aos sistemas de governo, temos o ser humano. Mais do que nunca temos a oportunidade de interferir na história.

Vivemos um momento que com algumas ressalvas, o poder esta compartilhado e disseminado entre todos. Seja na política democrática cada vez com mais espaços para participação efetiva, seja pela economia alternativa cada vez mais presente, através do pequeno produtor/comerciário ou através das redes da internet, seja na arte onde agora não dependemos mais das grandes gravadoras e qualquer pessoa pode gravar seu cd em casa e divulgar pela internet. Podemos ser jornalistas de facebook e compartilhar nossas próprias noticias ou visões sobre elas, escrever nossos livros virtuais... Enfim! O poder esta conosco.

A questão é: Quais as implicações disso? A primeira coisa que penso é na relação entre liberdade e responsabilidade. Defendo a escada do 1) responsabilidade. 2) autonomia. 3) liberdade. Afinal, como diria Renato Russo, liberdade é disciplina.

Isso implica e reconhecer que não temos mais um (único) polo de poder que deve ser questionado, derrubado... não há o rei, a igreja, a ideologia.... a revolução terá que ser dentro de cada um de nós!

Esse momento paradoxal, marcado sobretudo com as tecnologias alimentando o empoderamento, fica a questão: De um lado auxilia o protagonismo cidadão construtor de uma nova sociedade, um mundo em rede e conectado com a transformação, de outro a fragilidade da violência e intolerância da impessoalidade.


E viva a micro revolução cotidiana.

* Imagem aleatória somente para refletir que o futuro da sociedade será o que o ser humano fizer consigo.