domingo, 28 de setembro de 2014

Eu tenho que confessar algo. Falo palavrão. E o pior, não vejo problema nisso.

Já tive muitos problemas por conta desta prática. Uma simples reclamação no trânsito pode se tornar um grande problema por causa disso. Uma aula sobre a complexidade do ser em filosofia pode se tornar nada, por isso. Um elogio para a namorada pode se tornar uma ofensa por causa disso. E já repensei tanto sobre isso. Não consigo.

Sou bastante crítico e na mesma medida, sensível. Essa combinação pode ser perigosa, mas me agrada quando a vejo em alguém. Porém para quem tende a lidar com estas características, comumente, sobretudo quando gosta de debater, discutir, trocar, conversar, sobre tudo, age com a dupla: razão/emoção e, no meu caso, como filho geralmente sai um palavrão. É uma expressão do que estou sentindo, pensando, lutando, sonhando.

Semana passada, estava explicando para um estudante que o trabalho de ação social que teria que fazer tinha que ser algo realmente bacana! Algo que mexesse de alguma forma com eles e com demais seres sociais. Ele veio me falar de trabalhar a solidariedade, abraços grátis, carinho ao próximo... baseado em um vídeo bacana que anda rolando por aí. Falei que podia ser algo nesse sentido, mas podiam se esforçar mais ainda. É um trabalho que realizei já em diferentes escolas e os estudantes, geralmente em grupo, tem que apresentar alguma ação que vai “mudar o mundo”. Não raro, passo primeiramente o filme “corrente do bem” para puxarmos o projeto. Discutimos, lemos, trocamos, fazemos. Geralmente saem trabalhos lindos. Desde ações em creches, asilos, doação de sangue, conscientização sobre os mais variados temas, de forma tocante e que traz muito mais que conceitos ou notas, sensações prazerosas para mim, para os componentes dos grupos, colegas que assistem e as pessoas que recebem a ação social.

Mas para explicar o trabalho, deixei escapar que tinha que ser algo foda.
Foi meu erro mortal. Ali já não importava nada.

Uma mãe que estava ao lado, e até então não tinha visto, perguntou quem eu era. Reclamou para a tia da cantina. Deve ter falado para o marido, a vizinha, a irmã, o amante, as professoras e o diretor. Onde já se viu, um professor assim. Por isso a educação está desse jeito.

Não, não sei se ela falou isso. Mas por ter experiência na área e já ser chamado algumas vezes por algo parecido, imagino. Geralmente meus coordenadores, diretores e afins, me conhecem e dizem que estão fazendo para cumprir a norma e etc. Que talvez para eu tentar usar uma outra palavra, se der. Não da. Nunca da.

Acredito que seja um defeito meu, mas por que não mudar então a tia que ouviu tudo e só escutou o “foda”. Prefiro mil vezes falar um palavrão do que agir como um palavrão. O palavrão é uma palavra. Afinal, porque podemos falar fazer amor, transar e não podemos, de forma alguma, falar foda. Sem contar que ela nem entrou como algo relacionado ao sexo.

Nunca esqueço de um sarau que organizei com saudosos estudantes muito queridos de um curso técnico em biblioteconomia . Foi tudo muito tri! No final ainda, recebi uma homenagem muito linda deles, e ali, sem saber o que dizer, só consegui dizer “bah, vocês é que são foda”. Minha diretora da época estava lá. Ela me olhou... uma senhora, uns 60 anos, muito elegante, inteligente, refinada, séria e acima de tudo, comprometida com a educação. Ela me olhou, eu já pensando sobre o palavrão que escapou, imaginando o que eu falaria para me desculpar, deveria estar vermelho e trêmulo... depois de alguns segundos ela disse “Foda é tu Ralph”. Guardei como um dos mais importantes elogios da minha vida.

Tem palavras que hoje são palavrões e chocam e daqui 10 anos serão corriqueiras. Como do contrário também existe. Um exemplo para ilustrar: Coitado. Coitado não é palavrão hoje. Para quem não está ligado, coitado vem de alguém que sofreu coito. Pois é...

Como reflexão sobre isso, deixo uma música que gosto muito! É linda e provocativa sobre esse tema.

Para a senhora essa que me ouviu na cantina: Com todo meu respeito, vai se...   preocupar com algo mais importante.


quarta-feira, 24 de setembro de 2014

                                            7 e 20 de setembro

Estamos em um mês que sempre me gerou reflexões sobre a temática de identidade.

O conceito é um dos que me desperta maior curiosidade. Desde o primordial conhece-te a ti mesmo, para mim, uma frase que todos deveriam ter tatuada na mente, até a identidade de uma nação. Atualmente estou lendo Edgar Morin que fala inclusive em identidade planetária.

Mas enfim, desde muito cedo nas minhas pesquisas acadêmicas, busquei estudar a construção de identidade. Aquilo que nos identifica, que diz o que/quem somos. Mas mais do que simples característica selecionadas, é um processo de inclusão/exclusão, uma disputa de poderes, entra história, psicologia, sociologia, linguagens, cultura de uma forma geral. Talvez uma das palavras-chave seja interpretação.

 O que é o Ralph? O que é o Rio Grande do Sul? O que é o Brasil?
As identidades são construídas a partir de seleção que fazemos para moldar, a partir de nossa interpretação (que muitas vezes pode ser manipulada) algo ou alguém? 

É corriqueiro para mim, pensar sobre esses temas, seja na escola, família, amigos. E é interessante como geralmente constato uma espécie de interpretação coletiva para o mesmo sentido. Sim, mas isso parece óbvio! Não!!! Porque quando passo a cutucar e ir mais além as pessoas se dão conta que a identidade que tem de determinada coisa é fruto de uma interpretação que já recebeu pronta!
Não é mais surpreendente para mim, ouvir que o Brasil é futebol, sol, praia, samba, calor e carnaval e corrupção. Mesmo estando no inverno gaúcho em uma turma onde ninguém comemore o carnaval, poucos acompanhem o futebol e ninguém passe mais que 15 dias na praia por ano ou diga que é corrupto.

E por que para eles o Brasil é isso? Seria porque para outros o Brasil é isso. Logo, deixam de interpretar para reproduzir. Pena. Mas não vou me estender aqui falando das diferentes interpretações que podemos fazer da diversidade cultural brasileira. Para isso, deixo a dica de Roberto da Matta. 
Mas o questionamento que me faço é sobre a diferença, que esse mês é escancarada entre a nossa interpretação de identidade brasileira e identidade gaúcha!

7 de setembro comemoramos a independência do Brasil (que quem estuda um pouco o processo, percebe que não é bem o dia 7 que deveria ser comemorado, mas não vamos entrar nisso também.) A questão é: Por que dia 7 de setembro não passa mais do que um feriado e um dia em que alguns estudantes tem que obrigatoriamente murmurar um hino enquanto dia 20 de setembro todos gostam de, trajados ao modo gaúcho, cantar a todos pulmões o hino do estado.

 Por que temos orgulho de ser gaúcho mas vergonha de ser brasileiro? Para ser gaúcho não precisa ser brasileiro? No Rio Grande do Sul não tivemos escravidão? Não fomos explorados? Não há políticos corruptos? Não tem preconceito? Tudo funciona? Não tem bagunça?  O RS tem mais tradição? Mesmo sendo mais recente sua povoação que do resto do país? Mas tradição não é invenção? É sim. Leia o “invenção das tradições” e verás que o “tradicionalismo” gaúcho por exemplo não tem  nem 100 anos. Segundo o próprio Paixão côrtes! (para os gaúchos que não sabem, o "laçador")

Talvez a imagem que temos do Brasil não seja a nossa interpretação e sim o que aceitamos como a seleção do que vemos na mídia. (que como é majoritariamente produzida no sudeste, seleciona aspectos longes da nossa realidade). Talvez a história do nosso estado seja menos criticada e discutida, pois ainda mantemos como algo positivista, quase mítico e sem questionarmos, por exemplo, uma revolução que foi uma guerra civil ou uma vitória que foi uma rendição? 

Penso que cada vez mais está sendo repensada a identidade brasileira e isso traz a participação de todos os povos e culturas na formação do que é nosso país. Respeitar e admirar essa diversidade é algo que é fundamental. Já o nosso estado, muitas vezes parece ter parado no tempo e só pensa o gaúcho como o homem, do campo, farroupilha, que monta a cavalo e só aparece na semana do gaúcho. Hora de repensarmos a identidade, não? Do Brasil e do Rio Grande do Sul. Antes que queiram me queimar vivo em um ctg, digo que amo o meu estado e a diversidade cultural que encontro nele, tanto quanto o meu país.

 Penso por fim, que essa diferença entre sentir orgulho de um e vergonha do outra deve ser interpretada! Por que será? Pra terminar: Identidade também é sentimento, emoção, e aí palavras, conceitos e leituras não são suficientes. Confesso que ao ouvir o hino do RS, pilchado no piquete, sinto algo que não sinto no do Brasil. Por que será? Ficam dos vídeos/canções que podem conduzir sua reflexão:
 https://www.youtube.com/watch?v=hkiSUKxYBVE - Sob o mesmo céu - Lênine versando sobre a identidade brasileira.

https://www.youtube.com/watch?v=ZQUbaUOymro - Guri - Neto fagundes com estado das coisas, uma versão rock and roll. 

quarta-feira, 17 de setembro de 2014


 Um blog?
Sempre fui de seguir as novidades... Anos depois que elas não representassem mais o novo.
Considero-me amigo do tempo. Dedico-me a estudar sua relação com a gente.
Respeito o tempo. Chegou o tempo de eu ter um blog.

A melhor definição de um blog que já li, vi ouvi e senti foi “é como uma garrafa que se joga no oceano com alguma carta dentro”. Alguém talvez leia. Mas o que importa? Não cito o autor porque como de costume, misturo, já não sei quem foi. Amo misturar. Nesse caso, um tropicalista praticamente. Já me disseram que eu explico muito bem. Mas guardo todas as vezes que dizem que confundo muito bem. Prefiro a segunda, e como o Vargas, prefiro ser interpretado a explicado.
Mas sem mais delongas e de forma mais prática, vamos lá! O que vai ser esse blog? Para que(m) esse blog e por que utopia?
Começo pelo fim, diferentemente do Raul Seixas.
Utopia é uma das palavras mais belas no meu mundo. Gosto das palavras, acho que elas realmente constroem a realidade, sinto o poder que elas carregam e gosto de estar com elas.
Etimologicamente utopia significa lugar nenhum. É uma palavra que vem do grego. E o que não vem deles? (Mas e o que eles não copiaram do oriente? Na escola sempre a visão eurocêntrica....) É, eu falo abrindo mil parênteses, sempre que estou sozinho. Alias agora não falo mais abrir parênteses, abro hiperlinks. Enfim, mais que o significado etimológico ou do senso comum que usamos como algo próximo a sonho, que será difícil ou impossível de realizar... utopia para o Ralph é todo dia.
Eu vivo mergulhado em utopias, corro o perigo de nadar contra toda a maré, mas se me afogar, que seja assim.
Enfim, não respondi no fim nenhuma das perguntas? Melhor assim. Prefiro perguntar do que responder. As perguntas movem o mundo e provavelmente moverão o meu blog.
A que está na minha cabeça agora é por que um blog?
Mas enquanto isso, utopia também é um livro. Thomas Morus escreveu como seria uma ilha perfeita. Esse cara escreveu no século XVI o que seria a sociedade perfeita para ele. E neste breve livro aparecem conceitos como divórcio, eutanásia, consumismo.... ou estou misturando. Leia ele! E misture. Alguém dizia que se tu leres 5 livros em um mês, grande bosta. Mas se tu leres somente um, e com esse um, estabelecer conexões, trocar ideias, compartilhar e discutir com o autor em pensamento, tu fez um grande proveito. 
Isso de imaginar as coisas ainda nos levará longe. Alguém deve ter dito isso também.
Aquele papo do Descartes de penso logo existo, faz todo sentido. O que temos que não foi pensado antes? Pensei em ter esse blog.
Agora, pra finalizar o texto de hoje, queria dizer que propus aos meus estudantes criarem uma sociedade perfeita. A partir das sociedades antigas que estudamos (Egito, Mesopotâmia, Hebreus, Fenícios....) Esse pessoal que lembramos da escola e que achamos que não serve pra nada. E por parte disso, não entendemos as guerras que o jornal nacional conta do oriente médio.
Enfim, li os textos e ouvi as apresentações. Várias emoções diferentes me vieram.  (disfarcei quando as lágrimas quase transbordaram). Enfim, por hoje, pensar, sonhar, escrever e mais adiante, fazer.
Não vou escrever sobre como seria minha utopia. Deixo minha pergunta: Em tempos de campanhas eleitorais, onde cada candidato comenta sobre suas utopias (que a primeira vista parecem todas iguais e sem graça), como seria sua utopia?
 Fica a dica - Utopia (livro) está completo na net, no site domínio público.