quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Da Janela:




Da janela vejo o sol, a chuva a rua.
Ela, quase que totalmente nua.
Da janela eu me vejo, me percebo.
Sinto, não minto e existo.
É por ela que respiro, me inspiro e resisto.
Através dela que entro, que saio, que circulo.
Ela me faz ir além muro.


Mas não é poema, não é metáfora, é menos sério, é o que o pessoal de mais de 30 chama de real, verdade ou verídico. 

Tenho uma janela mágica.
Dela consigo ver de tudo.
E dela que recebo a energia, reflexões e alegrias.
Ela me traz o vento para arejar os pensamentos.
Por ela também entra o calor que me faz sentir acolhido.
Me ilumina através dos raios do sol.
É dela também que vejo a arvore, verde, sempre a me acenar.
Dela enxergo as gatas das vizinhas. Uma, felina, fica sempre deitada na janela.
Outra, as vezes se distrai e aparece seminua.
É da janela que entra os gritos das crianças que brincam de polícia e ladrão. Entendendo que ambos estão mais do mesmo lado que os adultos pensam.
É por ela também que vejo os vizinhos que cantam suas angustias.
O zelador que dança com a vassoura toda tarde.
Os aromas disparando as recordações.
A noite a lua aparece exatamente na minha janela.
É como se ela fosse um cinema onde cada dia eu pudesse assistir uma nova obra.
A minha janela me liga ao mundo.
(Tenho olhado muito para ela. Em busca de sinais, sentidos e saudades.)





ps: Na fotografia, minha janela. Companheira por inteira. 

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Vem pra Rua! & Caminhando e Cantando (na Neve)


A rua ao contrário da casa representa o público e não o privado. É nela que ficam mais explícitos os conceitos de liberdade, convivência, democracia e cidadania.

Um bom exercício de tolerância e diversidade.

O Brasil é muito rua! Da Matta fala do brasileiro da rua e da casa.
Acredito ser bastante importante seguir está vocação da rua. Não de cachorro de rua no sentido usado para referência a baixa auto estima, (à la Nelson Rodrigues), mas o cachorro de rua no sentido acolhedor, simpático, respeitador das normas de convivência, mas malandro no sentido incorporado de ser.

Brasil ao longo de sua história, embora tenha sido construído na rua, desdenha este espaço de civilidade. Tem algo de pobre, marginal, sujo e vagabundo na rua. Rua como algo inferior. Desde nosso período colonial, escravos na rua, nobres na casa grande. E assim prosseguimos no período imperial e da velha República.  A rua era habitada pelo pessoal dos cortiços, capoeiristas e demais excluídos ou minorias sociais.
Já nas décadas mais recentes graças a ditadura militar, rua era lugar de vagabundo que pensava e não concordava com o regime cruel.

Nesses últimos anos tenho percebido um movimento mais forte de ocupação dos espaços públicos.  Através das ciclovias, dos blocos e carnaval de rua, de manifestações...

Intervenções urbanas tem sido uma das minhas paixões. Grafite, músicos, atores e demais artistas de rua apresentam-se a céu aberto, entre esquinas e sinaleiras, nos presenteando e enfeitando as cidades. De acordo com o contexto que descrevia antes, estes também, no Brasil são menos reconhecido que em outros países.

Que o Brasil viva mais a rua. A rua tem muito a nos ensinar.  Tem coisas que não se aprende em casa. Só a rua ensina. 
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Semana passada uma reportagem me chamou atenção durante o jornal nacional.  Ela mostrava o resultado de uma nevasca muito forte que atingiu os Estados Unidos. Neve pelas ruas, por todos os lados. Dificultando o trânsito, sujando as calçadas, dando trabalho para sair de casa e, conforme a reportagem fez questão de explicitar, deixando tudo um caos.

Em meio às reclamações, caras fechadas, pessoas passando apressadas, uma criança munida de suas botas de borracha (?) fazia questão de passar por cima da neve acumulada na calçada.

Um sorriso estampava lhe o rosto. Acompanhando de sua mãe, que embora andasse de forma cuidadosa pela calçada, não deixou de dar a mão e andar ao lado de seu filho.
Em entrevista ela diz que mesmo demorando mais para chegar em casa, estava valendo a pena pela alegria do filho.  Que como uma típica mãe, replicava a felicidade do filho.

O que tem diferente entre o senhor que reclamava da neve e essa senhora? Ou entre a jovem de cara fechada que não olhou para a câmera e o menino que explorava a neve?
O que eles vêm!  A forma que enxergam as coisas, talvez.

A neve está ali, não é alucinação ou algo assim. Agora o que faremos com ela? Mesma situação para diferentes reações.  O que você tem feito com a neve que aparece em seu caminho? Como você tem vivenciado a rua da sua cidade?

Em tempos que pessoas enxergam salvação no Bolsonaro,  fico preocupado e ao mesmo tempo contente em querer ser alguém que enxergue as coisas como o guri estadunidense da neve.   (E aposto que se continuar pensando assim, jamais votaria em um Trump da vida).

* Na fotografia um grafite expondo uma das frases que mais gosto na MPB. Alucinação, de Belchior.