A rua ao contrário da casa representa o público e não o privado.
É nela que ficam mais explícitos os conceitos de liberdade, convivência,
democracia e cidadania.
Um bom exercício de tolerância e diversidade.
O Brasil é muito rua! Da Matta fala do brasileiro da rua e da
casa.
Acredito ser bastante importante seguir está vocação da rua. Não
de cachorro de rua no sentido usado para referência a baixa auto estima, (à la
Nelson Rodrigues), mas o cachorro de rua no sentido acolhedor, simpático,
respeitador das normas de convivência, mas malandro no sentido incorporado de
ser.
Brasil ao longo de sua história, embora tenha sido construído na
rua, desdenha este espaço de civilidade. Tem algo de pobre, marginal, sujo e
vagabundo na rua. Rua como algo inferior. Desde nosso período colonial,
escravos na rua, nobres na casa grande. E assim prosseguimos no período
imperial e da velha República. A rua era habitada pelo pessoal dos
cortiços, capoeiristas e demais excluídos ou minorias sociais.
Já nas décadas mais recentes graças a ditadura militar, rua era
lugar de vagabundo que pensava e não concordava com o regime cruel.
Nesses últimos anos tenho percebido um movimento mais forte de
ocupação dos espaços públicos. Através das ciclovias, dos blocos e
carnaval de rua, de manifestações...
Intervenções urbanas tem sido uma das minhas paixões. Grafite,
músicos, atores e demais artistas de rua apresentam-se a céu aberto, entre
esquinas e sinaleiras, nos presenteando e enfeitando as cidades. De acordo com
o contexto que descrevia antes, estes também, no Brasil são menos reconhecido
que em outros países.
Que o Brasil viva mais a rua. A rua tem muito a nos
ensinar. Tem coisas que não se aprende em casa. Só a rua ensina.
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Semana passada uma reportagem me chamou
atenção durante o jornal nacional. Ela
mostrava o resultado de uma nevasca muito forte que atingiu os Estados Unidos.
Neve pelas ruas, por todos os lados. Dificultando o trânsito, sujando as
calçadas, dando trabalho para sair de casa e, conforme a reportagem fez questão
de explicitar, deixando tudo um caos.
Em meio às reclamações, caras fechadas,
pessoas passando apressadas, uma criança munida de suas botas de borracha (?)
fazia questão de passar por cima da neve acumulada na calçada.
Um sorriso estampava lhe o rosto. Acompanhando
de sua mãe, que embora andasse de forma cuidadosa pela calçada, não deixou de
dar a mão e andar ao lado de seu filho.
Em entrevista ela diz que mesmo demorando mais
para chegar em casa, estava valendo a pena pela alegria do filho. Que como uma típica mãe, replicava a
felicidade do filho.
O que tem diferente entre o senhor que
reclamava da neve e essa senhora? Ou entre a jovem de cara fechada que não
olhou para a câmera e o menino que explorava a neve?
O que eles vêm! A forma que enxergam as coisas, talvez.
A neve está ali, não é alucinação ou algo
assim. Agora o que faremos com ela? Mesma situação para diferentes
reações. O que você tem feito com a neve
que aparece em seu caminho? Como você tem vivenciado a rua da sua cidade?
Em tempos que pessoas enxergam salvação no
Bolsonaro, fico preocupado e ao mesmo
tempo contente em querer ser alguém que enxergue as coisas como o guri
estadunidense da neve. (E aposto que se
continuar pensando assim, jamais votaria em um Trump da vida).
* Na fotografia um grafite expondo uma das frases que mais gosto na MPB. Alucinação, de Belchior.