segunda-feira, 19 de junho de 2017

E se nada der certo, o estigma continua tatuado



 O episódio do tatuador que marcou um adolescente, o qual supostamente teria tentado furtar uma bicicleta nos revela uma marca profunda da nossa sociedade. Desde os tempos do Código de Hamurabi que a frágil confusão entre justiça e vingança se faz presente e é notada em meio a relações de poder.

Semelhante aos tempos medievais onde o suplicio marcava uma forma de castigo onde o torturador cometia outro crime, muitas vezes de maior gravidade, ao torturar e matar o acusado em frente ao povo, a tortura ao jovem paulista é um caso que nos faz pensar o estágio em que nos encontramos. Segundo familiares, o adolescente de dezessete anos que sofreu a violência possui problemas mentais e envolvimento com drogas.

   Nas redes sociais, meios de comunicação ou rodas de conversa o tema se faz presente e divide opiniões. Muitos compartilham e curtem o vídeo que mostra a violência do tatuador e do pedreiro com o menino. Comentários de apoio à atitude, de incitação à violência e ao ódio expõem a intolerância.

A descrença nas instituições públicas, nos representantes políticos, em meio à sensação de insegurança, reforça atitudes cada vez menos racionais. Em uma sociedade onde a velocidade está cada vez maior e a pressa faz com que as pessoas comentem a reportagem antes de ou julguem antes de saber do processo, corremos de ir para um caminho sem volta. É necessário pararmos e refletirmos.

Questões como revogação do estatuto do desarmamento, redução da maioridade penal ou pena de morte são mostras de um posicionamento onde instintos como medo e a raiva sobrepõem a racionalidade.

Vivemos em um momento onde a falta de empatia, tolerância, tempo e interpretação de texto, nos fazem reforçar estigmas e estereotipar de forma violenta todos aqueles que nos cercam e parecem diferentes.


Os eventos recentes de recreios temáticos em escolas privadas no Rio Grande do Sul vão ao encontro dessa prática e demonstram como se nada der certo, continuaremos tatuando os preconceitos e as desigualdades em nosso país. 

* Texto publicado no jornal Zero Hora.