sábado, 6 de agosto de 2016

Era uma vez... (Abertura da Olimpíadas no BR)

     

      Abertura das Olimpíadas no Brasil sem dúvida deu o que falar. Não somente em nosso país, mas figurou entre os principais veículos de comunicação do mundo todo. Brasileiros comemorando, sentindo-se orgulhosos e felizes. Alegria era marca das noticias, sempre trazidas com um tom emocionante sobre todas as virtudes do Brasil e dos brasileiros.

     Há uma semana não seria possível perceber isso. Mas e o que mudou? De um país corrupto, em crise, intolerante, onde nada funciona e todos querendo se mudar para esse orgulho todo? Política do pão e circo funciona desde a antiguidade. Nisso, Roma conseguiu se aproveitar como ninguém. A questão é que não é somente negativa a política do pão e circo. Afinal alimentar os que tem fome é algo bem importante. Nutrir o corpo e a alma. Certamente estávamos com fome. O Brasileiro precisava disso. Passamos por vexames esportivos, econômicos, políticos e sociais nos últimos anos.
    
    A festa então apaga tudo isso? De forma alguma. Ao menos não por mais de algumas horas. Mas a questão é que a festa pode fazer notarmos que nem tudo são problemas. Nem tudo está perdido. Ela ajuda a nos empoderarmos, sentirmos coragem e ânimo. Autoestima é fundamental para qualquer processo de mudança.

Representatividade indígena, reconhecimento da cultura negra, valorização da mulher, empatia com os refugiados e preocupação com problemas ambientais! Importante tocas nestes pontos? Sem dúvida. Foi bonito? Foi. Bem feito? Sim. Mas soou hipócrita? Claro!

Em um país que não conhece, reconhece ou valoriza seus povos nativos. Que continua a ignorar a diversidade e riqueza das variadas culturas indígenas brasileiras coloca-los como artistas principais e na realidade saber que eles não são nem figurantes... triste. Será que eles servem só pra figuração em nossas festas? Impressão minha ou ninguém foi contra cotas aos indígenas e negros para figuração na abertura das olimpíadas?

Ninguém foi contra os negros na dança de abertura? Aliás, nada de violência né? Em um país extremamente preconceituoso na questão étnica que disfarça seu racismo, foi legal fingir que o negro estava de fato incorporado a sociedade brasileira. Ou será que lá, dançando, bem longe da gente é bonito. Estavam a uma distancia segura.

Respeito a figura das mulheres! Certissimo. Mas define um país onde a partir da cultura do estupro a culpa é sempre delas. Onde ainda recebem consideravelmente menos que os homens, não possuem grande participação política e para muitos ainda são alvos das piadas de inferioridade.

Aplaudimos entusiasticamente o grupo dos refugiados? Exatamente como deveríamos. Mas e porque no dia a dia a gente tem medo destes terroristas? Afinal eles vem tirar nossos empregos, não é? Fechamos as portas para eles. Mas é que nas olimpiadas ficam só por um tempo e já vão embora. Para onde? Isso não importa.

E por fim demos um recado ao mundo sobre os problemas ambientais e a importância da sustentabilidade? Perfeito! Mas nós? Que não conseguimos nem despoluir as lagoas onde haverá competição? Que mal conseguimos separar o lixo?


Enfim, não quero ser o cara chato. Mas não quero ser o cara bobo. Entre eles talvez tenha uma linha tênue onde nos deveríamos tentar nos colocar. Nem ingênuos, tampouco neuróticos. Foi bonita, interessante, bem feita, tocou em temas importantes. Mas agora vamos fazer por onde né? Para que não seja só uma ficção. 




* Na fotografia é Lea T, modelo transexual, trazendo os atletas brasileiros. Na abertura uma linda homenagem à todo um grupo. Grupo esse que nos outros dias é alvo de violência, transfobia, piadas, agressões, intolerância e e exclusão.