quarta-feira, 24 de setembro de 2014

                                            7 e 20 de setembro

Estamos em um mês que sempre me gerou reflexões sobre a temática de identidade.

O conceito é um dos que me desperta maior curiosidade. Desde o primordial conhece-te a ti mesmo, para mim, uma frase que todos deveriam ter tatuada na mente, até a identidade de uma nação. Atualmente estou lendo Edgar Morin que fala inclusive em identidade planetária.

Mas enfim, desde muito cedo nas minhas pesquisas acadêmicas, busquei estudar a construção de identidade. Aquilo que nos identifica, que diz o que/quem somos. Mas mais do que simples característica selecionadas, é um processo de inclusão/exclusão, uma disputa de poderes, entra história, psicologia, sociologia, linguagens, cultura de uma forma geral. Talvez uma das palavras-chave seja interpretação.

 O que é o Ralph? O que é o Rio Grande do Sul? O que é o Brasil?
As identidades são construídas a partir de seleção que fazemos para moldar, a partir de nossa interpretação (que muitas vezes pode ser manipulada) algo ou alguém? 

É corriqueiro para mim, pensar sobre esses temas, seja na escola, família, amigos. E é interessante como geralmente constato uma espécie de interpretação coletiva para o mesmo sentido. Sim, mas isso parece óbvio! Não!!! Porque quando passo a cutucar e ir mais além as pessoas se dão conta que a identidade que tem de determinada coisa é fruto de uma interpretação que já recebeu pronta!
Não é mais surpreendente para mim, ouvir que o Brasil é futebol, sol, praia, samba, calor e carnaval e corrupção. Mesmo estando no inverno gaúcho em uma turma onde ninguém comemore o carnaval, poucos acompanhem o futebol e ninguém passe mais que 15 dias na praia por ano ou diga que é corrupto.

E por que para eles o Brasil é isso? Seria porque para outros o Brasil é isso. Logo, deixam de interpretar para reproduzir. Pena. Mas não vou me estender aqui falando das diferentes interpretações que podemos fazer da diversidade cultural brasileira. Para isso, deixo a dica de Roberto da Matta. 
Mas o questionamento que me faço é sobre a diferença, que esse mês é escancarada entre a nossa interpretação de identidade brasileira e identidade gaúcha!

7 de setembro comemoramos a independência do Brasil (que quem estuda um pouco o processo, percebe que não é bem o dia 7 que deveria ser comemorado, mas não vamos entrar nisso também.) A questão é: Por que dia 7 de setembro não passa mais do que um feriado e um dia em que alguns estudantes tem que obrigatoriamente murmurar um hino enquanto dia 20 de setembro todos gostam de, trajados ao modo gaúcho, cantar a todos pulmões o hino do estado.

 Por que temos orgulho de ser gaúcho mas vergonha de ser brasileiro? Para ser gaúcho não precisa ser brasileiro? No Rio Grande do Sul não tivemos escravidão? Não fomos explorados? Não há políticos corruptos? Não tem preconceito? Tudo funciona? Não tem bagunça?  O RS tem mais tradição? Mesmo sendo mais recente sua povoação que do resto do país? Mas tradição não é invenção? É sim. Leia o “invenção das tradições” e verás que o “tradicionalismo” gaúcho por exemplo não tem  nem 100 anos. Segundo o próprio Paixão côrtes! (para os gaúchos que não sabem, o "laçador")

Talvez a imagem que temos do Brasil não seja a nossa interpretação e sim o que aceitamos como a seleção do que vemos na mídia. (que como é majoritariamente produzida no sudeste, seleciona aspectos longes da nossa realidade). Talvez a história do nosso estado seja menos criticada e discutida, pois ainda mantemos como algo positivista, quase mítico e sem questionarmos, por exemplo, uma revolução que foi uma guerra civil ou uma vitória que foi uma rendição? 

Penso que cada vez mais está sendo repensada a identidade brasileira e isso traz a participação de todos os povos e culturas na formação do que é nosso país. Respeitar e admirar essa diversidade é algo que é fundamental. Já o nosso estado, muitas vezes parece ter parado no tempo e só pensa o gaúcho como o homem, do campo, farroupilha, que monta a cavalo e só aparece na semana do gaúcho. Hora de repensarmos a identidade, não? Do Brasil e do Rio Grande do Sul. Antes que queiram me queimar vivo em um ctg, digo que amo o meu estado e a diversidade cultural que encontro nele, tanto quanto o meu país.

 Penso por fim, que essa diferença entre sentir orgulho de um e vergonha do outra deve ser interpretada! Por que será? Pra terminar: Identidade também é sentimento, emoção, e aí palavras, conceitos e leituras não são suficientes. Confesso que ao ouvir o hino do RS, pilchado no piquete, sinto algo que não sinto no do Brasil. Por que será? Ficam dos vídeos/canções que podem conduzir sua reflexão:
 https://www.youtube.com/watch?v=hkiSUKxYBVE - Sob o mesmo céu - Lênine versando sobre a identidade brasileira.

https://www.youtube.com/watch?v=ZQUbaUOymro - Guri - Neto fagundes com estado das coisas, uma versão rock and roll. 

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