7 e 20 de setembro
Estamos em um mês que sempre me gerou reflexões sobre a
temática de identidade.
O conceito é um dos que me desperta maior curiosidade. Desde
o primordial conhece-te a ti mesmo, para mim, uma frase que todos deveriam ter
tatuada na mente, até a identidade de uma nação. Atualmente estou lendo Edgar
Morin que fala inclusive em identidade planetária.
Mas enfim, desde muito cedo nas minhas pesquisas acadêmicas,
busquei estudar a construção de identidade. Aquilo que nos identifica, que diz
o que/quem somos. Mas mais do que simples característica selecionadas, é um
processo de inclusão/exclusão, uma disputa de poderes, entra história,
psicologia, sociologia, linguagens, cultura de uma forma geral. Talvez uma das
palavras-chave seja interpretação.
O que é o Ralph? O que é o Rio Grande do
Sul? O que é o Brasil?
As identidades são construídas a partir de seleção que
fazemos para moldar, a partir de nossa interpretação (que muitas vezes pode ser
manipulada) algo ou alguém?
É corriqueiro para mim, pensar sobre esses temas, seja na
escola, família, amigos. E é interessante como geralmente constato uma espécie
de interpretação coletiva para o mesmo sentido. Sim, mas isso parece óbvio!
Não!!! Porque quando passo a cutucar e ir mais além as pessoas se dão conta que
a identidade que tem de determinada coisa é fruto de uma interpretação que já
recebeu pronta!
Não é mais surpreendente para mim, ouvir que o Brasil é
futebol, sol, praia, samba, calor e carnaval e corrupção. Mesmo estando no
inverno gaúcho em uma turma onde ninguém comemore o carnaval, poucos acompanhem
o futebol e ninguém passe mais que 15 dias na praia por ano ou diga que é
corrupto.
E por que para eles o Brasil é isso? Seria porque para
outros o Brasil é isso. Logo, deixam de interpretar para reproduzir. Pena. Mas
não vou me estender aqui falando das diferentes interpretações que podemos
fazer da diversidade cultural brasileira. Para isso, deixo a dica de Roberto da
Matta.
Mas o questionamento que me faço é sobre a diferença, que
esse mês é escancarada entre a nossa interpretação de identidade brasileira e
identidade gaúcha!
7 de setembro comemoramos a independência do Brasil (que
quem estuda um pouco o processo, percebe que não é bem o dia 7 que deveria ser
comemorado, mas não vamos entrar nisso também.) A questão é: Por que dia 7 de
setembro não passa mais do que um feriado e um dia em que alguns estudantes tem
que obrigatoriamente murmurar um hino enquanto dia 20 de setembro todos gostam
de, trajados ao modo gaúcho, cantar a todos pulmões o hino do estado.
Por que temos orgulho
de ser gaúcho mas vergonha de ser brasileiro? Para ser gaúcho não precisa ser
brasileiro? No Rio Grande do Sul não tivemos escravidão? Não fomos explorados?
Não há políticos corruptos? Não tem preconceito? Tudo funciona? Não tem
bagunça? O RS tem mais tradição? Mesmo
sendo mais recente sua povoação que do resto do país? Mas tradição não é
invenção? É sim. Leia o “invenção das tradições” e verás que o
“tradicionalismo” gaúcho por exemplo não tem
nem 100 anos. Segundo o próprio Paixão côrtes! (para os gaúchos que não sabem, o "laçador")
Talvez a imagem que temos do Brasil não seja a nossa
interpretação e sim o que aceitamos como a seleção do que vemos na mídia. (que
como é majoritariamente produzida no sudeste, seleciona aspectos longes da
nossa realidade). Talvez a história do nosso estado seja menos criticada e
discutida, pois ainda mantemos como algo positivista, quase mítico e sem
questionarmos, por exemplo, uma revolução que foi uma guerra civil ou uma
vitória que foi uma rendição?
Penso que cada vez mais está sendo repensada a identidade
brasileira e isso traz a participação de todos os povos e culturas na formação
do que é nosso país. Respeitar e admirar essa diversidade é algo que é
fundamental. Já o nosso estado, muitas vezes parece ter parado no tempo e só
pensa o gaúcho como o homem, do campo, farroupilha, que monta a cavalo e só
aparece na semana do gaúcho. Hora de repensarmos a identidade, não? Do Brasil e
do Rio Grande do Sul. Antes que queiram me queimar vivo em um ctg, digo que amo
o meu estado e a diversidade cultural que encontro nele, tanto quanto o meu
país.
Penso por fim, que essa diferença entre sentir orgulho de um e vergonha
do outra deve ser interpretada! Por que será? Pra terminar: Identidade também é
sentimento, emoção, e aí palavras, conceitos e leituras não são suficientes.
Confesso que ao ouvir o hino do RS, pilchado no piquete, sinto algo que não
sinto no do Brasil. Por que será? Ficam dos vídeos/canções que podem conduzir
sua reflexão:
https://www.youtube.com/watch?v=ZQUbaUOymro - Guri - Neto fagundes com estado das coisas, uma versão rock and roll.
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