Do título a fotografia, passando pelos diálogo e a história
pessoal de cada personagem, o filme merece o adjetivo de uma verdadeira obra de
arte.
O longa em tom agridoce consegue a façanha de tratar de um
tema espinhoso focando na beleza que aflora da humanidade. Em uma mistura de
drama, comédia com pitadas de experimentalismo e as vezes umas tiradas mais
populares a película consegue ser na medida. Consegue trazer a inteligência
sensível de um filme cult mas sem ser chato ou cansativo. Traz o riso de uma
comédia mas sem ser bobo ou ingênuo. Consegue tratar de uma forma leve um tema
complexo sem ser simplista.
A história, em síntese se passa numa simpática cidade do
interior uruguaio. Mosquitos é um município fictício onde em plena ditadura
militar dois amigos resolvem utilizar a forma mais revolucionária de contestar:
o humor.
Esnal e Milo são homens de mais de 40 anos que se divertem
em um misto de intelectualidade despretensiosa e brincadeiras para excêntricas.
Ao um general se mudar para a cidade deles e no seu quadro de autoritarismo
tosco obrigar fechar os bares as 22h, a dupla se organizar para roubar os anões
de jardins do militar. (Que traz inúmeras possibilidades de
interpretação).
De uma forma cômica e revolucionária eles colocaram o plano
em prática mas acabam sendo descobertos. Um deles é preso pelos militares e o
outro se esconde e passa a viver recluso na sua própria solidão depressiva.
Com incentivo da filha de Milo, o Esnal deixa seu isolamento
e cria um plano inusitado porém óbvio para salvar o amigo. (Nesse momento temos
uma grande aula sobre a importância da educação e em especial da história). A história é um instrumento revolucionário...
Cada personagem tem uma história própria e muito rica que se
intercala com uma lindíssima trilha sonora. A produção é uma parceria da Argentina, Uruguai e Brasil. A
direção brilhante é de Guilhermo Casanova. Os atores Roberto Suárez e
César Troncoso, assim como o restante do elenco fazem um trabalho sutil e
primoroso. A trama é inspirada em um romance chamado Alívio de Luto, do
uruguaio Mário Delgado Aparain.
Como pano de fundo o muy amable Uruguai que representa a
identidade latina que é estampada com uma mescla de humor, luta, sorrisos e
sangue que formam um quadro que poderia ser de qualquer país do nosso
continente.
Necessário e saudável para nossos tempos, recomendo com
veemência que assistam esse filme. Prometo que alcançarão diferentes emoções.
Saímos do cinema cantarolando Belchior, mais leves e dispostos a fazer da nossa
sociedade um lugar melhor.
Na fotografia um retrato dos amigos (Milo e Esnal) que nos convidam a pensar sobre a história, política, relações, sentimentos e emoções.
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