quarta-feira, 1 de outubro de 2014

211/212 
Esta semana uma forte dor de garganta tem me acompanhado. Desta forma, combinei com alguns queridos estudantes de uma instituição que iria escrever aqui sobre algumas questões que essa enfermidade impossibilitou de versar mais em aula. (abro então uma exceção para escrever sobre isso)

Estamos estudando o fim do período antigo e consequentemente o inicio da idade média. Os próprios termos que denominam os períodos já deveriam merecer uma pausa para reflexão. Por que será “antiga” e “média”?

Claro que pergunto algo a mais do que a simples interpretação positivista de uma evolução ao longo de uma ordem cronológica. Vale lembrar que os caras que estão vivendo um período histórico (sobretudo antes do século XIX – 1800....) não sabiam que período estavam vivendo, uma vez que pensadores nomeiam a partir de um distanciamento, anos além.

Para citar um exemplo, a idade média é encarada assim, muitas vezes como a era “mais ou menos”, sombria, sem avanços, um período de retrocesso guiado pela igreja católica, porque quem a denominou “média” foram os pensadores modernos, renascentistas e sobretudo iluministas (que viveram a mudança da idade moderna para a contemporânea) e portanto criticavam o poder e os valores da igreja e do absolutismo dos reis).

Logo, para eles, o pensamento e as estruturas medievais eram “menores”, “ultrapassadas” e eles viam valores mais claros de progresso através da ciência e da república. (só pra lembrar, segundo muitos pensadores já não vivemos mais a contemporânea e sim a pós moderna, que teria começado pelos anos 1990 – mas isso é tema para outro papo)

Mas o que nos interessa agora é que esse período de transição da antiguidade para a idade média é marcada por uma troca de poder e saber. O marco adotado foi a queda do império romano. (o maior da antiguidade). Vale lembrar que o que caiu foi o império do ocidente, já que como os romanos entraram em crise, antes da queda, eles dividiram-se entre império romano do oriente e ocidente.
Essa crise e transição se dá com as constantes invasões dos vizinhos bárbaros. Vocês tem também algum vizinho bárbaro? Quem não tem né? A minha é extremamente violenta comigo quando liga seu rádio a todo volume com seu gosto musical duvidoso.  (se bem que ultimamente andei escutando a rádio dela pra prestigiar um novo hit que vai virar clássico. O que a gente não faz pelos amigos. Clair me deve essa)

Mas de onde vim o termo “bárbaros” ou “barbárie”? Muitas vezes os pensamos ligados à violência e inferioridade. (outro exemplo como o de idade “média”) que é visto por inferiores por outros. Se derem conta de tudo que usamos ou vivemos, se torna assim, verdade, concreto, mas nada mais é do que a interpretação de alguém? (grande chave do raciocínio).

Bárbaros eram os povos vizinhos dos romanos (que se julgavam superior e interpretavam seus vizinhos como inferiores). Vândalo por exemplo, que é aquele que faz vandalismo hoje pra nós (e segundo a tv são aqueles que destroem lojas e não os governantes que destroem vidas) é o nome simplesmente de um povo antigo. Para os romanos, eles eram violentos e portanto usamos o nome desse povo como usamos hoje.

Mas vamos adiante. Com a invasão dos povos vizinhos, entre eles os vândalos... o império romano que já estava marcado por uma grande crise acaba ruindo e marcando o inicio da idade média.
Na idade média, período que dura uns mil anos, você deve lembrar do feudalismo e saber que quem detinha o poder era a igreja católica. Vale lembrar que o que vai balizar as estruturas e a mentalidade de todo esse período tinha sido tornado oficial há pouco tempo. Já que até então imperava o politeísmo.

Esse processo pode ser acompanhado em um filme que ganhou muitos prêmios internacionais e que figura nas listas das melhores comédias do mundo (a vida de brian). Importante: não é um filme “fácil”. Muitas vezes podemos desmembrar várias camadas nele. Então pode ter quem entenda tudo e ache muito crítico e engraçado e quem só entenda as piadas mais escrachadas e menos profundas e o ache patético. De forma geral ele gera extremismos. Embora seja do final dos anos 1970 e possua uma fotografia ruim/dublagem fraca, acredito que valha a pena assisti-lo.

É uma forma crítica e bem humorada de pensar o cristianismo e o fim da antiguidade. A crítica não precisa sempre ser aquela coisa com cara de mal, né?

Mas lembram de que vocês chegaram a ideia de que o filme mostra que Brian não queria ser seguido e mesmo assim foi? Queria que as pessoas pensassem por si, mas todos acabaram pensando por ele? (será que podemos notar isso até os dias de hoje? Próxima aula quero uma chuva de exemplos disso!!)

Então chegamos a ideia de que aquilo que não era nada mais que uma brincadeira, ou que era seguido por uma minoria/ geralmente proibido, se torna oficial. Então por estar ao lado do poder, todos seguem e vira verdade. Assim como o “bárbaro”, “vandalismo”, “idade média”....

Isso faz a gente pensar que tudo que usamos, vivemos, vimos, está baseado em criações. Tudo é criado. Tudo nasce como uma ideia. E quando essa ideia é divulgada, sobretudo por mecanismos de poder, ela se torna uma verdade. Se é verdade/lei... passa a ser entendido como certo.  Logo, não existe verdade, lei, certo que não seja criado! E portanto fruto da mentalidade de uma época. O que era certo na idade média é visto errado como hoje. O que vemos errado hoje, provavelmente será aceito e incentivado daqui alguns anos... e assim as coisas vão mudando!

Que bom! O problema é quando aceitamos que existem verdades absolutas. Que as coisas são concretas e que não podemos criar outras!!!! Criar novas religiões, novas ideologias, sistemas políticos, formas de educação.... mas tudo isso só muda se primeiro tivermos ideias.

Sacaram agora a relação com o trabalho da utopia? Pensar sobre isso não deixa de ser exercer a cidadania. Mas voltaremos nesse tema! Por hora, faça como o Brian “Olhe sempre pro lado bom da vida” (essa música fica de uma maneira na cabeça do cara....)http://www.youtube.com/watch?v=vJowxFv96ig

Nenhum comentário:

Postar um comentário