Muitas
vezes guardamos o título do livro por achar que ele sintetiza ou explica a
obra. Outras vezes pensamos que o primeiro capítulo, como forma de fornecer um
contexto e introduzir o assunto, é o suficiente para sabermos o que é tratado.
Em alguns casos a sinopse ou a contracapa parecem dar conta do recado. Tem
ainda as oportunidades onde lemos o final, como que buscando na conclusão ou
última página entender o que aconteceu ou a moral da história. Há também aquele
dia que abrimos bem no meio para buscar o âmago ou ápice do livro.
Mas hoje não quero falar dos livros. Quero
falar das notas de roda pé da vida. Não são os títulos luminosos, os grandes
finais, a moral da história ou algo assim, mas é um detalhe que por fazer toda
a diferença. Muitas vezes muda tudo. Desde o gênero literário, o grau de
confiabilidade do escrito até o nosso futuro ou o meu passado.
Trato aqui como notas de rodapé aqueles
momentos micromágicos que vivenciamos e que dificilmente conseguimos esquecer.
Não sei por quê. Não sei nem se sou só eu que tenho isso. Posso sofrer de uma
doença rara e não sei. Micromomentismoseternos agudo.
Não são aniversários, nascimentos, mortes
ou datas especiais. Pode ser empurrar alguém no balanço em uma tarde de 1997;
um abraço na volta das férias de inverno de 2014; uma fala durante um show em
setembro de 2009. Uma pulseira, um desenho, um olhar. Sem um motivo que consiga
explicar, mexem, ficam, servem. (são verdadeiras lições)
Talvez seja isso o tal do aprendizado. A
hora que cai a ficha, que conecta, que encaixa, que faz sentido. Provável que
nenhuma das outras peças saiba o que pensei, senti e as consequências disso até
os dias atuais. Essa semana que escrevo posso citar ao menos dois momentos.
Experiencia em trocar ideias com pessoas
de diferentes áreas no palácio do ministério público, viagem até Caxias com
especialistas em temas que me interessam muito, debate com estudantes de
diferentes opiniões... mas o aprendizado maior foi na observação de uma
atitude. Durante o debate, ele silenciosamente pede licença e sai. (ficou
bravo? Foi fumar um cigarro? Banheiro?) fiquei no palco nem mais prestando
atenção nos colegas debatedores, mas intrigado.
Em todo auditório, poucas pessoas não se
entusiasmaram com o que foi discutido. Encantados em defender a proposta, todos
fomos agressivos ao defender nossos argumentos que são facilmente sustentado ao
responder as críticas (ou melhor, reclamações. Por não conterem argumentos
embasados ou proporem uma alternativa). Em resumo: Um casal foi metralhado por
pensar daquela forma, no mínimo incoerente e preconceituosa. (não sei se por
ter de ouvir esse discurso quase diariamente, não fiquei chocado com aquela
forma de pensar).
Ele depois de ouvir em silêncio, saiu. Era
o que estava mais embasado em discordar daquela aberração, era o que mais tinha
argumentos. Ele podia ser ovacionado por todos os demais do auditório. Ele
estava lá na rua fria de Caxias explicando melhor para o casal. Talvez o casal
não mude de opinião. Talvez nem pense mais no assunto. Talvez todo o esforço,
preparação e discussão da palestra fosse nada, a moral estava ali na cerração
gelada do estacionamento. Entre ele e o casal.
O show foi ensaiado. Autorizado. Fez-se
set-list. Todos equipamentos em três viagens. Perde trabalho. Mata aula.
Cancela jantar. Briga com ela. Negocia com ele. Por favor, porra. Luz, som,
gente. Experiencias diversas outra vez. Erros, falta de organização,
desrespeito, perdão, respeito, orgulho, humildade. E onde menos vem é que mais
se espera? O aprendizado maior não veio em isso tudo.
Ela, no meio de meus transtornos. No meio
de tudo. Aquela fala que era minha. Aquilo que eu digo. Ela reproduziu. Eu
identifiquei. Mudou tudo. E quem só ganha perde a honra de chorar. Mas e o que
é perder? ganhar? Procurarei meu filósofo do empate. Mas na comemoração
esquecemos. A vitória pode cegar e a derrota paralisar. Entre choro e grito, um
abraço. O abraço. Meu prêmio. Ali eu tinha derrotado a simples vitória.
Empatei. Essas três pessoas nem sequer vão imaginar o que aprendi com elas essa
semana. Eu nunca vou esquecer. A gente aprende é nas notas de rodapé.
* Na foto, a banda tocando um rock and roll no sábado de manhã (no Marista Graças) da semana citada. (algo que gerou algumas notas de rodapé) O negócio é misturar!
* Na foto, a banda tocando um rock and roll no sábado de manhã (no Marista Graças) da semana citada. (algo que gerou algumas notas de rodapé) O negócio é misturar!
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