domingo, 22 de dezembro de 2019

Carta aberta aos que levam a mochila nas costas, o saber na cabeça e a vontade no coração




Talvez vocês não saibam. (E é responsabilidade minha fazê-los saber). Eu existo por vocês.

Da mesma forma que um autor ganha vida ao ser lido, ou um maestro só tem sentido se tiver uma orquestra, eu sem vocês seria uma canção silenciada.  
Me construo diariamente com pedaços de cada estudante. Das gírias até a maneira de enxergar as coisas, eu vou aprendendo, adaptando e me constituindo. A cada instante, tudo que descubro, aprendo ou percebo, meu pensamento é como fazer isso chegar até vocês.

Eu sofro um pouco. As vezes escondo pra não atrapalhar nossos encontros. Outras vezes não consigo e, transformo em raiva, algum palavrão ou cara fechada. Em determinados momentos não consigo e transbordo em aula mesmo. E muitas vezes a dor vai embora pela diversão de estar com vocês. Outras vezes é atenuada pela compreensão e carinho. Perdão por não conseguir sempre ser o que gostaria de ser enquanto educador.

Eu sou muito feliz. A cada amadurecimento de vocês. Os depoimentos, atitudes que espio pelos corredores, intervenções pela escola. Cada evento, engajamento, brincadeira ou debate. Quando misturamos problemas sociais e amenidades, dançamos ou produzimos belos trabalhos, conversamos, rimos e aprendemos.

Sou bastante crítico, eu sei. Às vezes vejo isso como algo positivo uma vez que faz-me arrancar o que há de melhor em cada um ou uma de vocês. Em outros momentos sinto-me mal porque não sei se consigo ser compreensivo suficiente ou reconhecedor de cada pequena vitória de vocês.

Professor passa muito mais tempo planejando do que dando aula. E planejar pra mim é pensar em cada um e cada uma. Ficar comemorando sozinho o avanço, pensando que palavra eu posso usar em aula para tocar determinada estudante ou quem devo procurar para melhor auxiliar aquele estudante.

Entendo aqueles que reclamam de mim. Mais que um direito, é quase uma obrigação quando se é estudante. (ainda mais adolescente e vivendo na situação em que muitos vivem). Torço pra que chegue o tempo em que percebam que jamais fiz algo para o mal deles.

Não entendo muito aqueles que me admiram. Mas por eles tento cada dia ser melhor. Seguidamente me perguntam por que eu estudo tanto. (uma vez que já tenho duas faculdades, estou cursando a terceira. Tenho pós-graduação, especialização, um mestrado e agora estou começando mais um). Não é por dinheiro, já que sabemos o que eu estudo não traz grana. Não traz necessariamente um reconhecimento também em nosso país. Não é visando algum emprego específico ou desafio pessoal. É por vocês. É a forma que eu encontro de buscar contribuir mais com vocês. Das aulas de mestrado, passando por separar o lixo ou evitar brigar no trânsito, eu faço pensando que tenho estudantes. E são vocês que me fazem melhor, acreditar e querer mudar esse mundo pra melhor.

Muito obrigado por mais esse ano. E desejo 2020 de sonhos, alegrias, equilíbrio, amadurecimento, utopias, lutas e principalmente vontade! Para (re)existir, amar e mudar as coisas. E claro, sentido... afinal precisamos pensar para que(m) serve nosso conhecimento! Aproveitem as férias e façam de tudo! Vivam! E façam histórias... depois quero ouvi-las!

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