terça-feira, 30 de julho de 2019

Ela está morta


 Mulher morreu após perseguição e troca de tiros com a polícia — Foto: Reprodução/RBS TV
Ela morreu.
Morreu ali, em meio a todos. No meio fio da calçada. Morreu como viveu: sendo vista, mas sem ninguém enxergando-a. Nas regras do jogo ela não teve sorte.

Era noite fria e a vizinhança teve o espetáculo que foi capaz de entretê-los naquele fim de sábado. Sentiram-se assim incluídos no contexto de violência, que tanto assistem pela televisão.

Ela morreu.
Morreu com os braços abertos. Mas a preocupação era se os policiais que a mataram estavam bem. “Deus é bom. To bem. Ta tudo bem” respondeu o brigadiano. Foram só os vagabundos que se machucaram.

Ela morreu.
Estava ali quente, estirada na margem da rua. Mas não importava.
Isolaram o local. Afastaram os curiosos. Ela continuava ali morta.

Os policiais se cumprimentavam. Saudavam-se como guerreiros. Talvez pela adrenalina da perseguição.

No carro que ela estava, havia também duas crianças: o filho de 3 anos e o irmão de 13. A única companhia deles foi o medo. Choravam sozinho dentro do veículo batido.

O número de vizinhos assistindo a cena aumentava. Já era quase uma festa. Cada qual contava entusiasmado como foi ter que se jogar no chão para se proteger dos tiros que vinham da rua.

Parece que o carro era roubado. O motorista e o carona eram homens com passagem pela polícia. Polícia não os pegou. Fugiram. Os policiais foram incapazes de realizar seu trabalho.

Ela seguia morta. Os policiais tiravam fotografias.
Os pais dela chegaram. Reconheceram o corpo. Reconheceram a tragédia. Choro. Desespero. Ela lá morta.


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