Ela
morreu.
Morreu ali, em meio a todos. No meio fio da calçada. Morreu como viveu:
sendo vista, mas sem ninguém enxergando-a. Nas regras do jogo ela não teve
sorte.
Era
noite fria e a vizinhança teve o espetáculo que foi capaz de entretê-los
naquele fim de sábado. Sentiram-se assim incluídos no contexto de violência,
que tanto assistem pela televisão.
Ela
morreu.
Morreu com os braços abertos. Mas a preocupação era se os policiais que
a mataram estavam bem. “Deus é bom. To bem. Ta tudo bem” respondeu o brigadiano.
Foram só os vagabundos que se machucaram.
Ela
morreu.
Estava ali quente, estirada na margem da rua. Mas não importava.
Isolaram
o local. Afastaram os curiosos. Ela continuava ali morta.
Os
policiais se cumprimentavam. Saudavam-se como guerreiros. Talvez pela
adrenalina da perseguição.
No
carro que ela estava, havia também duas crianças: o filho de 3 anos e o irmão
de 13. A única companhia deles foi o medo. Choravam sozinho dentro do veículo
batido.
O
número de vizinhos assistindo a cena aumentava. Já era quase uma festa. Cada
qual contava entusiasmado como foi ter que se jogar no chão para se proteger
dos tiros que vinham da rua.
Parece
que o carro era roubado. O motorista e o carona eram homens com passagem pela polícia.
Polícia não os pegou. Fugiram. Os policiais foram incapazes de realizar seu
trabalho.
Ela
seguia morta. Os policiais tiravam fotografias.
Os
pais dela chegaram. Reconheceram o corpo. Reconheceram a tragédia. Choro. Desespero.
Ela lá morta.
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