segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

APAC: uma ilha de possibilidades.

     
                                    

     As tragédias ocorridas em Manaus e Roraima com a população carcerária, longe de ser um acidente, apenas escancaram ainda mais o caos que se encontra o sistema carcerário brasileiro. Um longo processo de ineficiência, abandono, desrespeito aos direitos humanos. As instituições prisionais já foram classificadas pela ONU e principais jornais do mundo como medievais. Não bastando esses recados, o país, ouvindo muitas vezes a parcela da mídia mais sensacionalista, população desinformada e indignada, e políticos que se aproveitam dessa situação, aumentou o número de prisões em mais de 200% nos últimos 10 anos. Estamos entre as maiores populações carcerárias do mundo. E somos a que mais cresce, atualmente.

     Brasil prende muito. Mas prende mal. Como disse o ministro da justiça. Nossa população carcerária é composta por um perfil claramente definido. 68% não possui ensino fundamental completo e 56% tem menos de 30 anos de idade. Entre os pobres, pretos da periferia, vemos é uma reprodução das desigualdades.

      As taxas de reincidência, embora careçam de um maior controle nos dados, como todos no que se refere a população de detentos no Brasil, giram em torno de 70%. Todos dados utilizados aqui podem ser acessados são fornecidos pelo Ministério da Justiça através do INFOPEN.  

     Não é de se surpreender quando se conhece as péssimas condições a que são submetidos os presos. Não estamos falando em luxo, mas em ter condições báscas para que o objetivo de ressocialização seja atendido. Caso contrário, os detentos regressam para a sociedade. Muito piores. Tento que se filiar a facções dentro do presídio e manter esse compromisso após a sua saída para manter-se a salvo.

     Em meio a esse mar de desesperança eis que temos uma ilha de possibilidade. Não que seja a solução, mas é uma excelente estratégia de transformação. E vem mostrando ótimos resultados: APAC.

     Surgida nos anos 1970 e reconhecida mundialmente a proposta ainda é pouco conhecida no Brasil. Criado por Mario Ottoboni, representante da pastoral carcerária, o método consiste na aplicação de doze passos: 1)participação da comunidade; 2) recuperando ajudando recuperando; 3) trabalho; 4) religião; 5) assistência jurídica; 6) assistência à saúde; 7) valorização humana; 8) a família; 9) o voluntário e sua formação; 10) Centro de Reintegração Social – CRS (O CRS possui três pavilhões destinados ao regime fechado, semi-aberto e aberto); 11) mérito do recuperando; 12) a Jornada de Libertação com Cristo.

     Enquanto os dados mostram um grau de reincidência de pelo menos 70% dos presos do sistema carcerário comum, nas APAC esse número cai para 10%. Para atingir essa ressocialização de 90% o modelo não utiliza policiais, armas ou qualquer tipo de violência. Os próprios presos, que lá são chamados de recuperandos, mantém todo o processo de limpeza, cuidados, alimentação e etc. É obrigatório o trabalho e estudo, o que compõe uma rígida rotina da manhã até a noite. Os apenados recebem ajuda dos voluntários que contribuem com atendimentos psicológicos, religiosos, esportivos e profissionais. Todo esse processo faz com que o custo de manter um condenado caia pela metade comparado ao sistema comum. Já há APACS espalhadas por várias cidades brasileiras.


     Estamos em fase de implementação da primeira no estado do Rio Grande do Sul, que irá ser na cidade de Canoas. Que vençamos o senso comum e jargões de ‘bandido bom é bandido morto’ ou ‘leva pra casa” e pensemos em soluções dentro da lei. Afinal, como diz a constituição, segurança pública é obrigação do estado mas dever do cidadão. Vamos contruir mais APACS? 


ps: Na foto, um corredor da APAC Barracão. (Local onde fiquei uma semana no regime fechado. E voltei transformado.). APAC não é a utopia, mas nos faz caminhar. 

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