Pensei
em escrever sobre os absurdos ocorridos na “pátria educadora”, mais
especificamente os que aconteceram entre o Estado e os professores, mediados
pela polícia. Como diriam os titãs... ou como diria um estudante meu
“marionetes”... que nas mãos de governantes despreparados e amedrontados,
tremem. Também despreparados, quebram.
Políticos?
Policiais? Professores? Em quem colocaremos a culpa dessa vez? Tragam um
espelho. Enquanto a população não perceber que as categorias criticadas a cada
semana são amostras de nós mesmos. Um título, um uniforme ou um cargo não deixa
alguém furtado do seu caráter humano. Essas atitudes de impeachment, redução da
maioridade penal, são apenas reflexos da forma que viemos nos comportando.
Pensei
em escrever sobre a proposta da redução da maioridade penal. Fazer com que
jovens que respondem por seus atos a partir do ECA e de medidas socioeducativas
passem a responder pelo código penal e prisão. Para quem conhece os
documentos/legislação e a prática (fase e sistema carcerário) não parece
difícil se posicionar na discussão. Estudiosos e especialistas nos temas são
praticamente unanimes, ,mas formam a minoria. Do outro lado, alimentada pelos
números da violência, ódio e insegurança e mídia sensacionalista, a maioria.
Pensei
principalmente em escrever sobre a experiência que tive semana passada e saí
transformado. Passar uma semana no
sistema carcerário do regime fechado conversando com recuperandos, funcionários
e voluntários. Talvez se mais pessoas pudessem experimentar o contato não
precisaria estar pensando em escrever sobre a violência com os professores ou
da redução da maioridade penal. Porém sobre isso estou escrevendo para o
mestrado. Material inédito, então deixemos para a publicação.
Por
hora escrevo sobre aqueles momentos que pensamos em desistir. Questão que me
foi levantada por uma estudante semana passada. “tu pensas em desistir?” Depois
de refletir e questionar o conceito de desistência,
sobretudo lincado ao de mudanças, e de dizer que penso em desistir todos os dias...
pensei, conversamos... cheguei a ideia de que quem não pensa em desistir todos
os dias é porque já desistiu e não percebeu. Então por tudo que não fazemos
agora, por todas as mudanças e trocas, questionamentos e “inconformações”,
desisti de escrever sobre a minha experiência na APAC, sobre redução da
maioridade, sobre o conflito no PR. Apenas compartilho um momento de desistência
da semana expresso através de um e-mail para minha orientadora:
Patrícia,
A academia cobra a
tal imparcialidade que na minha forma de ver não existe. Ao escolher falar de
um tema, estou já sendo imparcial. Ao escolher a fonte da letra que usarei no
texto estarei sendo imparcial. Ao olhar para o caso, através do meu olhar que
se da a partir da minha cultura, educação, moral, ideologia, escolhendo um
paradigma, uma metodologia... tudo isso estarei sendo imparcial.
Se a emoção aparece
a academia pode questionar e dizer que não é cientifico e blá, blá,b
Eu trabalho com
educação. A pesquisa para mim é como se fosse um alimento que me fortalece para
o meu objetivo principal (que está longe de ser ficar horas formatando
trabalhos ou discutindo com egos de doutores que não saem das suas torres de
mármore) é compartilhar meu olhar sobre as coisas. Buscar conectar as
diferentes realidades que percebo... tentar interferir de alguma forma na
sociedade em que faço parte. E isso me parece impossível de separar quando
começo a escrever no que acredito.
Eu me emocionei, eu
chorei, eu falei palavrões, nada científico.
Não sei se vou
conseguir/querer me submeter a essas besteiras que cada vez mais me incomodam
do mundo acadêmico. (e também escolar!)
Estou bastante contente pois fui
convidado para uma reunião no ministério público do tribunal de justiça do RS
para falar sobre minha visita e experiência na APAC para a futura instauração
de uma em Canoas. Acabo de receber um e-mail me convidando para realizar mais uma
palestra para estudantes da psicologia e do dirteito de uma universidade de na
serra gaúcha. Sobre a APAC e transformação social.
Tenho conseguido despertar amigos e familiares para assunto que não os
interessava ou tocava.
Talvez isso tudo
que está acontecendo é o que eu mais queria. Compartilhar, trocar,
experimentar.
Enfim, confuso
quanto a seguir escrevendo para o mestrado.
Também não tenho
mais saco de ter que cortar uma linha de discussão quanto um sinal infernal
toca. Parar a fala de um estudante porque um imbecil que não queria estar ali
não consegue respeitar os demais.
Não nasci pra
fazer chamada. Faço três vezes porque esqueço, rasuro e perco. Pra que? Também
não quero falar para os pais o como a vida capitalista individualista e
frustrada deles não pode ser descontada em um paradoxo de abandono e
superproteção dos filhos. Não gostaria de ter que contrariar uma noção formada
de que não é preciso respeitar colegas, de que os professores não são
especialistas o suficiente para terem a total autonomia na educação escolar, de
que a nota é o mais importante e pode ser alcançada na última prova do ano... Não
sou pai de ninguém. Não tenho maturidade para ser, menos ainda pra falar como
se deve ser.
Não quero ouvir
alguém me dizer que tenho que dar limites para seus filhos... Horas fazendo
provas? Pra que? Pra escrever opções que estão erradas e uma que está correta?
Perco mais tempo escrevendo mentiras do que construindo conhecimento! Algo está
errado nisso tudo! Porra, ninguém vê?
Burocracia, notas, grana.... Gastam o tempo e a energia que é pra ser de
vida.
Procurando onde esteja o que quero! Além de dentro
de mim. (Sem nunca esquecer o que uma
estudante me disse tempos atrás “mudar de lugar é fácil. Difícil é mudar O
lugar”)
Na foto uma placa significativa (desde ser esculpida na madeira, junto com um novo homem, até o fato de estar na porta que abre para novas possibilidades)que recebi de presente dos
recuperandos da APAC e deixo na porta de meu quarto para não esquecer que das muitas coisas que me ensinaram sobre educação, me
fizeram pensar que desistir diariamente é nunca desistir.
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