terça-feira, 6 de setembro de 2016

Não persiga a felicidade! (isso pode deixar você não percebe-la)




Levo muito a sério os sonhos. Os meus e os dos outros. Falo sobre aqueles sonhos que temos acordados. Gosto de saber o que as pessoas sonham. É quase um “diz qual teu sonho que te direi quem és”.

Certo dia entrei pra uma aula e notei no fundo da sala um quadro com os sonhos dos meus estudantes. Adorei e corri para ler atentamente cada um. Para minha surpresa e certa decepção, a grande maioria tinha como sonho "ser feliz".

Não deveria ter me sentido assim. (surpreso). Explico: Que sonho das pessoas é ser feliz eu já deveria saber. Pesquisas, falas, entrevistas, comentários, atitudes (consumo, hipocrisia, violência, intolerância...) tudo isso demonstra que o que as pessoas mais perseguem hoje é a felicidade. E ai está a minha decepção.

Felicidade não é algo que se persegue, é algo que se tropeça.

Sem dúvidas que vivemos em um tempo onde a moda é a obrigação de ter que ser feliz. Quase como se fossemos os românticos do XIX ao contrário. E não estamos percebendo o quanto isso nos faz mal e nos impede de sonhar.

Isso de querer ser feliz é uma fabricação. Uma imposição econômica, politica e cultural que acaba por se tornar uma mentalidade fortemente marcante na sociedade moderna ocidental.
Não existe, tanto no ponto de vista teórico quanto prático uma lógica em que a felicidade é um ponto final. Algo que se consegue a partir de um esforço, como recompensa ou resultado de uma vida de trabalho, estudo ou sei lá... para se chegar ao final de tudo na felicidade. Definitivamente não é assim.
Felicidade é aquilo que acontece enquanto estamos distraído. Como diria um cantor brasileiro brega, o que existe na vida são momentos felizes. E se estamos preocupados em passar trabalho para alcançar a felicidade, ela passa e nós não notamos.

Muitos teóricos, filósofos, psicólogos , artistas se dedicam até hoje a pensar a felicidade. Mas ela é de sentir, não de pensar.  Fico com dois. Ou melhor, pego emprestado referências em dois pensadores para explicar o que é felicidade para mim.

1)      Epicuro, filósofo grego antigo. Felicidade é a ausência de dor (física e espiritual). Pra não sentir dor é necessário não ter desejo sem ser realizado, Logo, poucos desejos, vida simples é o mais próximo da felicidade.

2)      Fernando Pessoa, escritor português moderno, em um dos seus heterônimo diz que pode não ser nada, mas guarda dentro deles todos os sonhos do mundo. Ou seja, muitos sonhos (que não devem ser confundidos com desejos) mas que podem ser relacionados contraditoriamente a felicidade do Epicuro.


3)      Entre simplicidade e sonhos, buscando a ausência da dor física e espiritual, vou tropeçando na felicidade. As vezes ela está mais nítida, outras vezes mais embaçada. Em alguns momentos deixo de enxerga-la, mas logo exercito meu olhar em busca-la. Tem momentos que me afogo nela. Outros chego a sentir sede. Penso que é assim. Faz parte da vida e nossas escolhas e nossos sonhos são fundamentais. A felicidade depende da forma que olhamos pra eles. Não devem ser o produto final.




 * Na fotografia, minha afilhada seguindo seu caminho. Espero que não pensando em encontrar a felicidade no fim dele, mas topando com ela em meio as suas pegadas. 

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