Levo muito a sério os sonhos. Os meus
e os dos outros. Falo sobre aqueles sonhos que temos acordados. Gosto de saber
o que as pessoas sonham. É quase um “diz qual teu sonho que te direi quem és”.
Certo dia entrei pra uma aula e notei no fundo da sala um quadro
com os sonhos dos meus estudantes. Adorei e corri para ler atentamente cada um.
Para minha surpresa e certa decepção, a grande maioria tinha como sonho "ser
feliz".
Não deveria ter me sentido assim. (surpreso). Explico: Que
sonho das pessoas é ser feliz eu já deveria saber. Pesquisas, falas,
entrevistas, comentários, atitudes (consumo, hipocrisia, violência,
intolerância...) tudo isso demonstra que o que as pessoas mais perseguem hoje é
a felicidade. E ai está a minha decepção.
Felicidade não é algo que se persegue, é algo que se
tropeça.
Sem dúvidas que vivemos em um tempo onde a moda é a
obrigação de ter que ser feliz. Quase como se fossemos os românticos do XIX ao
contrário. E não estamos percebendo o quanto isso nos faz mal e nos impede de
sonhar.
Isso de querer ser feliz é uma fabricação. Uma imposição
econômica, politica e cultural que acaba por se tornar uma mentalidade
fortemente marcante na sociedade moderna ocidental.
Não existe, tanto no ponto de vista teórico quanto prático
uma lógica em que a felicidade é um ponto final. Algo que se consegue a partir
de um esforço, como recompensa ou resultado de uma vida de trabalho, estudo ou
sei lá... para se chegar ao final de tudo na felicidade. Definitivamente não é
assim.
Felicidade é aquilo que acontece enquanto estamos distraído.
Como diria um cantor brasileiro brega, o que existe na vida são momentos
felizes. E se estamos preocupados em passar trabalho para alcançar a
felicidade, ela passa e nós não notamos.
Muitos teóricos, filósofos, psicólogos , artistas se dedicam
até hoje a pensar a felicidade. Mas ela é de sentir, não de pensar. Fico com dois. Ou melhor, pego emprestado
referências em dois pensadores para explicar o que é felicidade para mim.
1)
Epicuro, filósofo grego antigo. Felicidade é a
ausência de dor (física e espiritual). Pra não sentir dor é necessário não ter
desejo sem ser realizado, Logo, poucos desejos, vida simples é o mais próximo
da felicidade.
2)
Fernando Pessoa, escritor português moderno, em
um dos seus heterônimo diz que pode não ser nada, mas guarda dentro deles todos
os sonhos do mundo. Ou seja, muitos sonhos (que não devem ser confundidos com
desejos) mas que podem ser relacionados contraditoriamente a felicidade do Epicuro.
3)
Entre simplicidade e sonhos, buscando a ausência
da dor física e espiritual, vou tropeçando na felicidade. As vezes ela está
mais nítida, outras vezes mais embaçada. Em alguns momentos deixo de
enxerga-la, mas logo exercito meu olhar em busca-la. Tem momentos que me afogo
nela. Outros chego a sentir sede. Penso que é assim. Faz parte da vida e nossas
escolhas e nossos sonhos são fundamentais. A felicidade depende da forma que
olhamos pra eles. Não devem ser o produto final.
* Na fotografia, minha afilhada seguindo seu caminho. Espero que não pensando em encontrar a felicidade no fim dele, mas topando com ela em meio as suas pegadas.
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