Ele
está de volta é um filme baseado no livro de mesmo nome, escrito pelo alemão Timur Vermes. A obra literária e sua adaptação para o cinema se propõem a pensar como seria
se Adolf Hitler voltasse a vida nos dias de hoje. A ideia guarda um misto de
originalidade e clichê. Sem dúvida que me instiga e pelo jeito, causa
curiosidade em muita gente. (nas últimas semanas tem sido um dos filmes mais assistido
no netflix; Também tenho visto muitos comentários da crítica).
De
uma forma mais leve, em tom de comédia para se assistir no domingo a tarde, o
diretor vai nos revelando as ideias nazistas de Hitler ao mesmo tempo que vai
costurando com entrevistas da população, que apoiam e defendem seus preceitos
ainda hoje. Entre medo e risadas, o filme vai nos fazendo perceber que o
contexto de fato é propicio a refletir que talvez ele não volte. Não volte
porque ele nunca foi embora. Ele está dentro de todos nós!!!!
Seja
no instinto de defesa, no nosso egoísmo, na forma ingênua de pensar algumas
questões complexas e acabar de forma intolerante fazendo o uso de algum tipo de
violência para simplificar as coisas. A democracia, como já disse em outro
texto aqui, não é fácil. Muito menos trabalhoso é uma ditadura. Obedecer quase
sempre é mais fácil do que pensar.
Nessas
horas fica mais nítido enxergar que nenhum ditador se mantém no poder sozinho.
Na teia das relações de poder, está a maioria da população o apoiando ou
simplesmente não fazendo nada contra. Também fica claro o quanto a publicidade
e as novas tecnologias seriam auxiliares a proposta e figura de um novo “Hitler”.
Isso
não é difícil. Quantos hitlers você possui no facebook, twitter, sala de aula,
bairro, câmara ou senado? Curioso notar que no filme também, no inicio é
pensado quase que de forma cômica. Chega ser engraçado de tão absurdo. Mas aos
poucos a população, sempre em um contexto de alguma desmotivação, problemas,
inseguranças, acaba comprando facilmente os discursos que apelam para nosso
irracionalismo sentimental.
Sem
querer dar spoiler, vale o destaque de como a pessoa que mais percebe a
situação é tratada como louca, enquanto os demais apoiam todo o discurso de
ódio que vai se instaurando.
Em
meio as polêmicas do lançamento do Minha Luta (já que agora, depois de 70 anos,
os direitos autorais tornaram-se de domínio público) vale a reflexão, o que
resta de Hitler dentro de você? Para muito além do controle do estado em
questões polêmicas, o que me causa espanto nestas discussões é como ainda há
tanta gente baixando, lendo, compartilhando e pensando/agindo com tais
argumentos de intolerância étnica, social, sexual... É talvez estejamos todos
exteriorizando o nosso lado doentio, em busca do que nos falta, essa febre
indica que de fato estamos em uma sociedade doente. Isso é a febre...
(Basta
ver políticos dos EUA ao Brasil e seus milhares de eleitores; As redes sociais
e seus discursos de ódios sem embasamento nenhum; As entrevistas do filme; Os discursos
reproduzidos por jovens em salas de aula... e basta fazer uma análise mais
aprofundada, detalhando os contextos e percebendo o vazio em cada afirmação
exaltada)
Leiamos
o livro, vejamos o filme, leiamos história, discutamos filosofia, pensemos a
sociedade, convivamos com os diferentes, sejamos tolerantes, pratiquemos a
empatia... Mas não paremos no tempo, tampouco utilizemos dos nossos problemas
para atacar os outros. E aí, como você trata o Hitlerzinho que está dentro de
você?
* Na fotografia uma imagem do filme. (selfie com Adolf) O próprio ator deu uma entrevista dizendo que ficou surpreso e assustado de como/quanta gente durante as gravações procuraram para dizer que o apoiavam, queria tirar fotos e etc.
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