Pedro era um senhor de meia idade. Meio magro. Meio alto.
Reconhecia-se como um homem médio. Ou melhor, um homem pela
metade.
Trabalhava como mais um auxiliar administrativo no serviço
público.
Morava com sua esposa e uma filha num apartamento alugado em
um bairro distante do centro da cidade.
Fazia seu deslocamento com um carro semi-novo que
estava pagando aos poucos.
Pensava em divórcio. Mas estava esperando a mulher tomar a
iniciativa de pedir a separação.
Tinha medo de morrer sozinho. Temia perder o contato com a
filha, que na visão dele já lhe achava um cara meio fracassado.
Certo dia, cansado de ter uma vida pela metade, Pedro antes
de dormir, em um choro seco, prometeu pra si mesmo que a partir da próxima
manhã tudo seria diferente.
Acordou e simplesmente decidiu não ir trabalhar. Depois de
anos sem sequer se atrasar, Pedro troca o trabalho por uma manhã inteira na
cama.
Sentindo-se um rei, levanta quase meio dia e senta-se na
varanda. Ainda de cueca e meias, resolve abrir um whisky escocês que ganhara de
uma tio rico e guardava como enfeite.
Ao sentir o último gole queimar lhe a garganta, arremessa o
copo vazio que estoura na parede.
Coloca seu terno que só usava em batizados ou casamentos e
resolve sair sem rumo definido. Enquanto dirigia ao som alto, decide viajar
para o litoral.
15h e em uma bela terça feira de sol, deita-se somente de
cueca sob o sol de uma praia vazia. Mergulha e nada alegremente até perceber o
sol se pôr. Seca-se com o blazer e resolve colocar novamente a calça e
camisa.
De sapatos sem meias pega seu carro e volta para a cidade.
No caminho, resolve jantar em um chique restaurante. Come ignorando
completamente os olhares curiosos dos garçons. Ao passar pelo centro da cidade,
resolve parar em uma casa de massagens. Logo de cara chama as duas mulheres
mais atraentes do salão para o sofá que estava.
Meia hora de conversa e sobe com as duas para o
quarto. Deixa o estabelecimento já era quase de manhã. Ao chegar na garagem do
seu prédio, chora. Chora muito. Por tanto tempo achava que o sentido da vida
estava no que ele não fazia. E agora tinha certeza, a vida não fazia sentido.
Pega o elevador pensando que tinha excedido a velocidade do
carro e portanto certamente acumulados multas de sua ida a praia. Pagou as
garotas de programa com o cartão que estava no nome da esposa e está saberia da
traição. Tinha desaparecido e não retornado as ligações da filha que deveriam
estar muito preocupada. Gastou mais do que tinha para manter a família durante
o mês.
Ao chegar no sexto andar paralisa vendo a porta abrir
lentamente enquanto pensa o que fará. Seu pensamento é interrompido por uma
sirene.
Seu celular toca exatamente 7:15 e ele acorda a tempo de ver
sua filha saindo para a escola com a mãe. Fica paralisado percebendo que havia
tido um sonho e enquanto veste o seu uniforme monocolor pensa que descobriu o
sentido da vida.
Veste meias coloridas novas e sai sorrindo.
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