domingo, 19 de abril de 2015

Quem somos nós? (no cinema)

                                            

Nas últimas duas semanas assisti a dois filmes que estão martelando ainda em minha cabeça e se conectando em vários pontos com os demais temas que também estão estacionados nela, nos últimos tempos.

Penso não ser uma exclusividade minha mas algo que acompanhe a humanidade nesses milhões de anos que viemos buscando entender o meio em que vivemos, as nossas relações e nós mesmos.

O sal da terra é um documentário franco-ítalo-brasileiro de 2014, dirigido pelo alemão Wim Wenders e pelo brasileiro Juliano Salgado. Foi indicado ao Oscar de melhor documentário na edição do Oscar 2015. O longa é um olhar para a vida e a obra (ou a obra que é a vida) do talentosíssimo fotografo brasileiro Sebastião Salgado.

Há tempos um filme não mexia tanto comigo. De estudante do interior de Minas Gerais, passando pelo cientista econômico de esquerda engajado de São Paulo, até o economista secretário barbudo que trabalhava com grandes empresas em Londres. Isso tudo é Salgado. Isso tudo é ele antes de se descobrir fotografo.

Já casado e com filhos ele resolve abandonar sua carreira promissora e com barbas e cabelos ainda maiores, perdendo no tamanho apenas para sua coragem, inicia a vida de fotografo para olhar as pessoas e ver mais de perto.

Ele, assim como o budista que ouvi essa semana fizeram as melhores definições de economia que já vi/ouvi. (outro momento falo sobre isso). Deixou de ser um pós-graduado da economia para retratar em preto e branco todos aqueles que estavam a margem da sociedade.

Olhando para os excluídos sociais da América latina e da África ele inicia sua nova jornada. Tudo isso se mistura no filme. Um pouco biográfico, um pouco didático, um pouco histórico, um pouco de tudo. Mais muito de cada detalhe que torna o filme uma obra prima. Dirigido pelo mestre Wenders e pelo filho do próprio fotografo o filme narra a vida e as fotos, contando com depoimentos do Sebastião explicando o contexto de suas fotos.

O filme tem partes fortes. Sebastião diz que depois de acompanhar massacres, guerras, mortes e horrores que só os seres-humanos são capazes de criar, ele adoeceu. A alma dele ficou doente. Ele pirou por um tempo. Deixou de acreditar no homem. E aí inicia sua mais recente fase que busca retratar a natureza, o meio e os animais. Mas quando a gente pensa que ele “perdeu” é aí que vem a grande surpresa do filme, que muitas vezes chega a parecer ficção de tão interessante e surpreendente.

Ele se cura, sua alma passa a estar livre da melhor forma possível. Ele se conhece, se reconhece e passa a agir ainda mais como um agente de transformação. Filme brilhante que busca olhar para nós, homens, bichos, seres que somos um pouco homens, um pouco bichos mas que através do meio em que vivemos conseguimos ultrapassar tudo. Resumo: Palmas no final da sessão. (merecidas). Planos no final da sessão (ainda acontecendo) Mudanças no final da sessão (já estão começando).

Força maior foi o segundo filme. Ele é como a vida. Alguns saíram do cinema reclamando que não tinha nexo. (e a vida tem?), alguns elogiando e dizendo que é divino (e a vida não é?). Sem dúvida o filme tem partes tristes, chatas, cansativas, mas tem momentos de gargalhadas, reflexão, aventura, enfim, é como a vida. O filme busca retratar a vida. A vida de uma família. De homens, de mulheres, de crianças. Todos um pouco humanos, um pouco bichos.

Uma família sueca passa as férias nos Alpes para esquiar. Eles ouvem um estrondo, que poderia ser um alerta de avalanche. Mas o pai não acredita na possibilidade de perigo. Enquanto comem, são surpreendidos pela avalanche. O pai reage com covardia, o que fará com que ele seja perseguido pelos seus erros até o fim de sua vida.

Respeitando o tempo, enaltecendo os diálogos, reverenciando a natureza gelada, o filme talvez não seja para todos. Deixa muitas questões no ar. Não possui piadas prontas. Não é rápido e não é didático. Mas é muito bom. Diferenças entre gêneros de uma maneira nada obvia. Relações pensadas de maneira diferente. Medo e coragem não da maneira convencional. Filme simples mas muito complexo.

Pensar até onde somos bichos e onde somos homens. Racionais ou instintivos. O que faz o homem ser um homem. (essa semana discuti bastante sobre essas relações. Sexo, religião, economia, guerra, palavra, fogo, agricultura, choro, sorriso, elogio e crítica. Enfim, como mostram os finais de ambos os filmes, nós só somos quando nos relacionamos. Com o nosso meio, com os outros e com a gente mesmo. Contexto e Autoconhecimento. Homem e meio. As tecnologias nos expressam, retratam, nós interpretamos. Enfim, continuamos caminhando. E tudo está absurdamente conectado.


Filmes: O Sal da Terra e Força Maior estão em cartaz nos cinemas J

Na foto o uruguaio Eduardo Galeano (1940 – 2015) que nos deixou entre tantas lições, uma sobre caminharmos rumo à utopia.  

sábado, 11 de abril de 2015

Um Mês?



Sempre amei perguntas! Por algum tempo, submetido a ditadura da escola e de minha timidez adolescente, guardei-as para mim. Já na fase (adulta?) liberei todas elas! Em um bate papo com amigos, janta com a família ou na sala de aula. (atuando como estudante ou professor), espalho e disparo todas que puder.

Acredito, como o Gessinger, que a dúvida é o preço da pureza e é inútil ter certeza. Concordo com o comercial da Unissinos que diz que as perguntas movem o mundo. Não sou muito das respostas. Sou todo das perguntas, questionamentos...

Eis que essa semana me foi feita uma. De forma despretensiosa, no inicio da manhã, minha coordenadora pedagógica me olha e dispara: “Ralph, o que tu faria se o mundo só tivesse mais um mês?”

Parei. Pensei. Colegas vieram com boas piadas. Bateu a sirene. Fui para aula. A pergunta ficou.
Uma semana me acompanhando. Sim, já tinha pensado sobre o tema antes. Já havia recebido essa pergunta. Mas era outros momentos. Outros Ralphs. Veja, é diferente “O que fazer antes de morrer”, “O que fazer se tu só tivesse mais um ano de vida”, mas a pergunta foi “O que fazer se o mundo for acabar daqui um mês”.

Para mim, ao menos, faz toda diferença. Uma coisa é eu, simplesmente eu, morrer. Outra é o mundo todo desaparecer. Isso envolve mudanças na minha reação. Primeiramente pensei em viagens. Aquela de mochilão por toda América. E aquele tempo conhecendo a Europa? Mas e o autoconhecimento nos países asiáticos? Africa? Imagina uma banda pelo Egito e conhecer culturas tribais da savana? Bah! Antes de começar a imaginar as ilhas paradisíacas só pra mim meu violão e uma prancha, pensei de novo. É só um mês.

Shows dos Stones, tocar pra muita gente sem ficar nervoso, dar aula para quem esta sedento pelo que tu quer compartilhar? Ter um filho? Ralph, é só um mês! Dar a vida por alguma causa???  Não, Ralph o mundo todo vai acabar. Então fiquei sem resposta.

De manhã: Acordei leve. Comi uma pizza gordurosa fria e fui meditar no sol. (equilíbrio é o que há). Me voltou a questão! Caiu a ficha! Faria o que fiz esse mês. Nada de muito diferente. 
Nada que mude totalmente minha rotina. Mas, ações diárias que vão mudar a forma de fazer a rotina.
Respirar mais antes de brigar. Mais atenção com aquela pessoa. Um pouco mais de empenho naquela atividade. Um cuidado maior com aquilo. Um sorriso a mais pra ela. Olhar mais contemplativo sobre tudo. Pequenas mudanças cotidianas para transformar a rotina. (saberes, amigos, arte, natureza, estudantes, sentimentos, família, pessoas...)


As viagens? Os shows? A morte por uma causa? O filho? Escrever um livro? Deixa isso tudo para o “antes de morrer”. Para esse mês vamos agora, já! (só espero não morrer esse mês).

* Na foto um dos momentos simples e especiais de todos os meses. Estar com meus amigos tocando um rock and roll. Na ocasião, essa semana na formatura do Michael (baixista).