Tenho
aprendido muito com a minha gata. Os felinos tem todo um charme, independência,
mistério e um ar de superioridade sobre nós, resto das categorias animalescas.
Não à toa eram considerados sagrados no Egito antigo. (por ser uma civilização
que era sustentada pela sua agricultura a base do Nilo, se os ratos destruíssem
os grãos, era crise certa! Gatos protegiam os grãos, a agricultura, a
civilização).
Também
tem o lance do gato ter sete vidas. (nove, em alguns países) Tem a forma
personalizada de pedirem carinho e sua mania de tomar água sempre corrente. Já
notaram o quanto as senhoras sábias possuem gatos como companhia? As gurias e
caras mais interessantes também. Esses dias esperando em um veterinário com meu
cão, minha gata e minha irmã, reparava a diferença entre donos de cães e donos
de gatos. (ok, minha tese é um estereótipo e está cheia de preconceitos, mas
bah! Muito diferente e perceptível)
Os
gatos têm muito a ensinar. Talvez aqueles que vivem em sua companhia se tornem
um pouco mais “felinos”. (Claro, desde que estejam dispostos a isso!). Isso me lembra
de Enem e educação. Uma vez ouvi alguém dizendo que tinha ensinado seu gato
falar francês. (Nossa!!!, pensei. E antes de qualquer pergunta a pessoa
respondeu “se ele aprendeu eu não sei, mas ensinei”). A moral é, resultado do
Enem (em último caso, qualquer processo de construção de conhecimento) depende
de quem? Do gato ou da professora de francês?
Mas
sobre a minha gata, que não fala francês . (ao menos, se fala não me ensinou
ainda. Talvez saiba que só enrolo e demoro para aprender a gramática) Ela tem
me ensinado no exemplo. (e tem outra forma?)
Desde
sempre, ela passa por cima de mim enquanto estou deitado, desfila vagarosamente
pela minha escrivaninha e para na frente da minha na janela. Mia para eu abrir a
janela e ela poder dar um passeio. (isso é no horário que ela quiser e
independe do que eu esteja fazendo). Pode ser 3 da tarde onde estou lendo, 11
da noite e eu esteja indo dormir ou 4 da manhã e eu esteja dormindo.) e mia!
Mas mia! Com aquele miado que começa mais melodioso e curto e vai ficando
rouco, bravo e aumentando o volume. Vou lá e abro, sempre. (não por ser legal,
mas por voltar a fazer o que estava fazendo).
De
uns dias pra cá, como que percebendo minhas fraquezas, ela resolveu me ensinar algo
novo. Ela vai e silenciosamente fica paradinha em frente a janela. Já fiz
testes, ela fica o tempo que eu demorar, em total ausência de som. A hora que
abro ela sai correndo. Talvez ela tenha percebido que já aprendida a primeira
lição (estar sempre disposto a auxiliar os outros, sobretudo os que por algum
motivo, estejam em situação menos oportuna. A perceber a superioridade da fauna
e da flora em relação a nossa breve participação aqui na terra. A servir os
seres fêmeas sem pensar estar fazendo um favor. A entender a beleza da rotina.
A não ficar irritado e abrir a janela com sorriso no rosto, mesmo as 3:30 da
manhã de inverno. A sempre lembrar que podemos abrir a janela para ver mais
longe
Mas
a tarefa nova, é a do silêncio. É o exemplo de - “Ralph, não adianta gritar,
espernear, brigar pelo que tu quer até ficar rouco. Não aja tanto por instinto,
respire antes de argumentar. Espere. Tudo tem seu tempo. Observe as pausas,
respeite os intervalos”.
Confesso
que essa é ainda mais difícil. Mas ela está me ensinando. Certamente deve
pensar “eu estou ensinando, se ele aprenderá, eu não sei”.
O
resultado do Enem, o dono da gata ou a civilização egípcia dependem em parte do
contexto socioeconômico, do capital cultural, do seu entorno e de ti! É muita
fala para explicar que a alegria que o Grêmio me deu é simples, é muito número
pra entender um resultado do Enem que poucas palavras explicam, é muita vida
para um gato que consegue passar tudo em poucos dias. Precisamos é estar
atentos!
* Na foto, a Tchuca e a janela no momento em que escrevo.