O episódio do tatuador que marcou um adolescente, o qual supostamente
teria tentado furtar uma bicicleta nos revela uma marca profunda da nossa
sociedade. Desde os tempos do Código de Hamurabi que a frágil confusão entre
justiça e vingança se faz presente e é notada em meio a relações de poder.
Semelhante aos tempos medievais
onde o suplicio marcava uma forma de castigo onde o torturador cometia outro
crime, muitas vezes de maior gravidade, ao torturar e matar o acusado em frente
ao povo, a tortura ao jovem paulista é um caso que nos faz pensar o estágio em
que nos encontramos. Segundo familiares, o adolescente de dezessete anos que
sofreu a violência possui problemas mentais e envolvimento com drogas.
Nas redes sociais, meios de comunicação ou rodas de conversa o tema se
faz presente e divide opiniões. Muitos compartilham e curtem o vídeo que mostra
a violência do tatuador e do pedreiro com o menino. Comentários de apoio à
atitude, de incitação à violência e ao ódio expõem a intolerância.
A descrença nas instituições
públicas, nos representantes políticos, em meio à sensação de insegurança,
reforça atitudes cada vez menos racionais. Em uma sociedade onde a velocidade
está cada vez maior e a pressa faz com que as pessoas comentem a reportagem antes
de ou julguem antes de saber do processo, corremos de ir para um caminho sem
volta. É necessário pararmos e refletirmos.
Questões como revogação do
estatuto do desarmamento, redução da maioridade penal ou pena de morte são
mostras de um posicionamento onde instintos como medo e a raiva sobrepõem a
racionalidade.
Vivemos em um momento onde a
falta de empatia, tolerância, tempo e interpretação de texto, nos fazem
reforçar estigmas e estereotipar de forma violenta todos aqueles que nos cercam
e parecem diferentes.
Os eventos recentes de recreios
temáticos em escolas privadas no Rio Grande do Sul vão ao encontro dessa
prática e demonstram como se nada der certo, continuaremos tatuando os
preconceitos e as desigualdades em nosso país.
* Texto publicado no jornal Zero Hora.
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